21 de julho de 2010

Primo avisou Sócrates que ia usar o seu nome

Investigação: Testemunhos contraditórios no processo.

Hugo Monteiro, na declaração à PJ, fala mesmo num encontro na casa do primeiro-ministro.Hugo Monteiro garante que avisou José Sócrates de que se ia encontrar com os promotores do Freeport e que ia usar a relação familiar para conseguir um contrato.

O próprio, em declarações à PJ no âmbito do processo Freeport, disse que o encontro aconteceu na casa do primeiro-ministro, na rua de Braancamp. 'Foi ter com o primo a fim de lhe pedir se não se importava que dissesse que era primo dele para prestigiar o projecto. Tomaram café numa pastelaria ao lado e o seu primo disse-lhe que o podia fazer', pode ler-se no resumo das declarações inscritas no relatório final da Judiciária.

Hugo Monteiro tinha dito publicamente exactamente o contrário. Em entrevista ao ‘Expresso’ depois de o seu nome ter vindo a público, o empresário garantira que agira à revelia de Sócrates e que aquele nunca lhe autorizara que falasse do seu nome.

Nas declarações dos familiares de Sócrates há outras contradições. Hugo garante por exemplo que foi o pai quem lhe deu o telefone de Charles Smith para que ele o contactasse e que, na altura, lhe referiu tratar-se de uma pessoa que 'ele já tinha ajudado'. Hugo volta a dizer que na sua opinião o encontro promovido pelo pai e que juntou Smith, Manuel Pedro e José Sócrates teve 'influência' na decisão do projecto.

Por seu turno, Júlio Monteiro assegura que o filho usou ilegitimamente o seu nome e o do primo 'para conseguir benefícios financeiros para a empresa da qual era proprietário'.

Diz ainda não entender as razões que levaram Hugo a escrever, num e-mail enviado a Charles Smith, que os promotores do Freeport deveriam ser informados do 'apoio prestado pela família Carvalho Monteiro no desbloqueamento do processo de licenciamento'.

Outro e-mail enviado por Manuel Pedro a Charles Smith – cujo assunto refere 'Carta para Julinho Monteiro', o tio de Sócrates diz tratar-se de um negócio envolvendo a Quinta do Lago.

Assegura mesmo que foi através da mulher de Smith e desse negócio que falou pela primeira vez com os sócios da empresa que geria o processo do licenciamento do Freeport. Júlio Monteiro explica igualmente que só tentou evitar o pagamento do suborno e que avisou Sócrates de que alguém pedia quatro milhões para viabilizar o projecto.

SETE MILHÕES DE OFFSHORES


As análises às contas bancárias de Capinha Lopes, o arquitecto que a determinado momento do processo trabalhou para os promotores do Freeport, permitiram à Polícia Judiciária detectar diversas transferências de dinheiro através de paraísos fiscais. Foram encontradas duas contas do BES onde chegaram 7,047 milhões de euros provenientes do Banco Insular, BPN e BPN Cayman. O dinheiro entrou em Portugal através de sete transferências distintas, mas os titulares das contas de origem nunca foram identificados.

A PJ verificou ainda que uma parte desse montante teve como destino outras entidades, dos quais se destacam a ‘Almeida e Paiva’, ‘Banco Insular’ e ‘Port Fair Navegação’, entre outros.

A outra parte circulou previamente em contas tituladas pelas empresas Capinha Lopes & Associados e Preduque, antes de sair com destino às entidades referidas.

Outro dado que a análise às contas permitiu verificar foram créditos da Freeport Leisure PLC e Freeport Portugal no valor de 1,739 mil euros nas contas de Capinha Lopes. Nas contas tituladas pela Preduque também entrou mais de um milhão vindo do BPN Cayman. A transferência foi feita em Janeiro de 2004 e mais uma vez desconhece-se o titular da conta de origem.

TESTEMUNHAS ASSEGURAM QUE HOUVE SUBORNO


São várias as testemunhas que asseguram ter havido pagamentos de subornos no licenciamento do Freeport. Uma delas é uma funcionária da Câmara do Montijo que assegura que o primeiro chumbo se deveu à pressão de Belmiro de Azevedo que temia perder com o Freeport já que os clientes não visitariam o Centro Comercial Vasco da Gama. A funcionária diz depois que Manuel Pedro lhe garantiu ter pago '500 mil contos ao Sócrates' para que o processo fosse licenciado. O mesmo testemunho é corroborado por outra funcionária de Manuel Pedro que se lembra de ter ouvido o patrão falar num suborno de 500 mil. 400 mil seriam para Sócrates.

FONTE: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/primo-avisou-socrates-que-ia-usar-o-seu-nome

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