Empréstimos à banca estrangeira representam 111,7% da riqueza do País
"O País consome mais do que produz" e "está a viver à custa das poupanças dos estrangeiros", pedindo emprestado, alertam os economistas. Resultado: em média, cada português deve 18,3 mil euros aos banqueiros estrangeiros, mais 1750 euros que há um ano. Ou, fazendo outras contas, só para "limpar" a dívida, os portugueses necessitavam de trabalhar um ano e 42 dias.
"Portugal está penhorado ao estrangeiro." A frase, dramática, ilustra o endividamento das famílias, empresas e Estado ao longo dos últimos anos. A dívida líquida (descontando a dívida dos estrangeiros a Portugal) contraída aos grandes bancos europeus excede a riqueza do País (PIB) em 11,7%, atingindo uns impressionantes 182,7 mil milhões de euros, um agravamento anual de 9,5%.
Na verdade, o total de empréstimos contraídos é muito maior: a chamada "dívida bruta" é o triplo do PIB, o equivalente a três anos de trabalho. Como foi possível chegar a "este estado de coisas"? Baixas taxas de juro e o "crédito à descrição" pela banca levaram as famílias e empresas a enveredar por despesas crescentes.
Em média, o total dos empréstimos contraídos pelos consumidores à banca - para pagar casas e carros - significa 135% do salário anual, já descontados os impostos. As empresas nacionais são das mais endividadas da OCDE e isto explica porque o investimento não descola.
Sem depósitos em quantidades suficientes, a banca portuguesa teve de pedir créditos aos banqueiros internacionais para satisfazer a voragem pelo crédito. Estes empréstimos externos chegaram a atingir os 57% do PIB em 2007, mas, de então para cá, os bancos nacionais reduziram as posições junto dos estrangeiros (ver gráfico). O que é explicado pela crise: menos salários, mais desemprego e altos endividamentos levaram a menos apetite pelo dinheiro, e a própria banca, ameaçada pelo peso do endividamento, começou a restringir o crédito concedido às famílias.
Também o Estado é culpado pelo forte acréscimo no endividamento externo. Os sucessivos défices orçamentais - no ano passado as despesas foram superiores às receitas de impostos em 9,4% do PIB - obrigaram o Tesouro a emitir milhares de milhões de euros em títulos subscritos pelos grandes bancos estrangeiros, como o Fortis ou o ABN. Resultado, em 2009 a dívida estatal colocada no estrangeiro superou os 55,5% do PIB (um peso de 90,7 mil milhões de euros), bem acima dos 49% verificados em 2008. Esta é uma das facturas - em mais despesas com desemprego, apoios à actividade e menos impostos - pagas por conta da crise, que levou a economia a contrair 2,7% no ano passado.
Na ressaca da crise, as famílias já estão a moderar o consumo, principalmente em bens duradouros - a compra de carros, por exemplo, caiu em 2009. Com menos importações, uma vez que as empresas também não investem, e com a balança de rendimentos a desacelerar, o défice externo caiu para os 9,4% do PIB no ano passado, contra o pico de 10,4% atingido em 2008.
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