15 de janeiro de 2011

Uma Aventura sem Reprovações

Partiu a loiça, a entrevista que Isabel Alçada deu ao Expresso, bem no final de Julho, quando a maior parte das pessoas pensava mais em férias e praia que em política e educação. Nela, a Ministra da Educação defendia o final dos chumbos no ensino, alegando que “as crianças repetem o ano e essa repetição quase nunca é benéfica em termos de evolução da aprendizagem”, pelo que se torna necessário fazer “o que todos os países do Norte da Europa fazem”, ou seja, acabar com as repetências.

Talvez seja do tempo quente. Em plena época veranil, o que menos interessa é pensar em escola, e é fácil abraçar a ideia do “positivas para toda a gente”. No entanto, não se pode compreender como é que uma Ministra da Educação não distingue as diferenças de base na literacia entre Portugal e os países nórdicos, que permitem a estes últimos implementar com sucesso a actual ausência de retenções. Tal como também é difícil entender o desconhecimento demonstrado pela ministra quando afirma que o problema que leva muitos alunos a passar de ano sem adquirir as competências-chave é a inexistência de “um documento que as defina”. Esse documento, na verdade, existe (há quase uma década), tem o nome de Currículo Nacional do Ensino Básico e pode inclusive ser consultado online no site da DGIDC. Isabel Alçada devia saber isto.

A ideia cheira a camuflagem. Convém não esquecer que, sem repetências, as taxas de insucesso descem de forma drástica e disfarça-se o seu custo abismal, estimado em cerca de 600 milhões de euros. Tudo somado, é uma imagem muito mais agradável, pelo menos em aparência, que a da conjunctura actual. Quem se importa com a motivação de alunos que sabem que, façam o que fizerem, vão passar no final do ano? Quem quer saber do mérito de profissionais a quem, durante a formação, nada se lhes exigiu? O que conta é apresentar números agradáveis ao povo, certo?

Como seria de esperar, Isabel Alçada começou-se a retrair um dia depois de lançar o barro à parede. O processo, diz ela, é suposto ser gradual, e tem primeiro de ser analisado em profundidade, antes da implementação. Nada que espante, num Governo que muda constantemente de posição sobre os mais diversos assuntos. É um filme de final previsível, no qual, aparentemente, Isabel Alçada está bem integrada.

FONTE: http://www.urbanman.com.pt/search?updated-max=2010-08-31T18%3A08%3A00%2B01%3A00&max-results=5

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