Ao acordar na sala de recobro do Hospital Particular, em Lisboa, Fernando Castro sentiu um desconforto numa parte do corpo onde nada de diferente deveria sentir. Chamou uma enfermeira, pediu para lhe retirar o lençol que o cobria e verificou que tinha o braço direito envolto em ligaduras. O esquerdo, ao qual deveria ter sido operado, estava rapado e sem qualquer vestígio de intervenção clínica. Um engano. Um terrível engano ocorrido no passado dia 12 e cujo desfecho final parece encaminhar-se para uma sala do tribunal.
"Nem queria acreditar. Chamei a enfermeira, que confirmou que me haviam operado ao braço errado. Depois vieram os médicos. O cirurgião ficou muito aflito e pediu muitas desculpas. O chefe de equipa portou-se pior. Perguntou-me porque é que eu não disse nada", contou ao PÚBLICO o paciente desta história insólita. "Como é que eu havia de dizer alguma coisa, se tinha levado anestesia geral e estive a dormir durante três horas?"
Para grandes males, grandes remédios, terão pensado os médicos responsáveis pela operação (a uma fibrocartilagem do triângulo do pulso esquerdo). Fernando, que se terá lesionado ao ajudar a combater um incêndio no banco onde é vigilante, em Lisboa, viu o operador e o chefe de equipa avançarem com uma solução para o caso. "O cirurgião disse-me que já que estamos aqui aproveitamos e vamos já operá-lo ao outro braço, mas antes ainda me informou que aproveitara o engano para reparar uma lesão antiga no braço direito. O chefe de equipa tentou culpar a enfermeira e eu tive que me insurgir, pois ela nada fez de errado. Pelo contrário: até me rapou o braço que deveria ter sido operado." A verdade é que o doente, que a princípio até estava receptivo a uma segunda operação, acabou por reflectir e não se dispôs a voltar, naquela ocasião, à sala de cirurgias. "Iria levar duas anestesias gerais em poucas horas e, além disso, ficava impossibilitado de utilizar qualquer um dos braços, uma vez que o que estava bom já estava operado e ligado", disse.
Fernando Castro saiu do hospital levando consigo todo o processo clínico (documentos originais). Em nenhum dos documentos há referência a qualquer lesão no braço a que foi operado por engano, embora se diga explicitamente que foi operado ao membro superior direito. "O que os papéis dizem é que deveria tomar analgésicos e ficar com o braço no ar. Não falam em qualquer lesão antiga, como disse o operador. Na verdade, nunca tive qualquer dor nesse braço, nem sei se alguma vez tive algum problema que merecesse uma operação", contou o segurança, adiantando ainda que, pela parte que lhe diz respeito, o assunto será "resolvido no tribunal".
O PÚBLICO tentou falar com os médicos envolvidos neste caso. No Hospital Particular foi informado de que o chefe de equipa não se encontrava e que o cirurgião não queria atender o telefonema. Contactada a Ordem dos Médicos (OM) foi dito, através do assessor de imprensa, que o caso ainda não era ali conhecido. Habitualmente a OM toma as suas decisões sobre estes casos depois de haver uma decisão dos tribunais. Os casos extremos de condenações a médicos culminam com a sua expulsão, enquanto outros considerados muito graves são punidos com penas de suspensão da actividade.
FONTE: http://www.publico.pt/Sociedade/doente-operado-ao-braco-errado-no-hospital-particular-de-lisboa_1437914
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