Desemprego dos mais jovens atingiu recorde, mas há emprego a ser criado no grupo dos 65 anos ou mais.
Poucos, mas bons. O número de empregados a receber salários de 3.000 euros líquidos ou mais por mês aumentou 23% no primeiro trimestre do ano, para 28,6 mil pessoas, aprofundando a desigualdade de rendimentos na economia, mostra o inquérito ao emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE), ontem publicado.
O número de trabalhadores com remunerações superiores a 2.500 euros também aumentou de forma considerável (17% face ao primeiro trimestre do ano passado), para quase 27 mil pessoas.
O aumento substancial nos salários mais elevados acontece numa altura em que a taxa de desemprego atingiu o valor mais alto de sempre em Portugal (10,6% da população activa ou 592.200 desempregados), em que o desemprego dos mais jovens segue o mesmo padrão (22,7% de desemprego entre jovens activos dos 15 e os 24 anos) e em que a crise já apagou mais de 219 mil empregos desde que começou a afectar o mercado laboral, em meados de 2008.
Pelo contrário, mostra o INE, o grupo de trabalhadores por conta de outrem que ganham salários líquidos entre 310 e 900 euros reduziu-se em apenas 1,4%, acompanhando a tendência da destruição de emprego. Em Portugal, no início deste ano, havia 1,3 milhões de pessoas a ganhar de 310 a 600 euros/mês e 1,1 milhões com salários de 600 a 900 euros.
As camadas mais jovens continuam a ser altamente sacrificadas. O emprego no grupo dos 15 aos 24 anos foi o que mais caiu, cerca de 11,4%. Logo a seguir, os mais penalizados pela destruição de postos de trabalho foram os indivíduos dos 25 aos 34 anos, com uma redução de 2,5%. Pelo contrário, o emprego dos mais velhos - tipicamente associado a vínculos/contratos mais estáveis e permanentes - conseguiu aguentar melhor a erosão. O emprego no grupo dos 45 aos 64 anos estabilizou em 1,8 milhões de pessoas e até avançou 3,5% nas idades mais seniores (65 anos ou mais).
A precariedade - fenómeno associado às camadas mais jovens - continua a dar sinais de força. Os contratos de trabalho a termo e outros ainda mais temporários avançaram 10% e 4%, respectivamente. Em compensação, a destruição de emprego fez-se à custa dos contratos permanentes, cujo número recuou 3,3%.
As situações de quase-desemprego também prevaleceram: o subemprego visível (quem trabalha involuntariamente abaixo da duração normal de trabalho - poucas horas ou de forma irregular) subiu 7,7%, os inactivos que admitiram estar disponíveis para aceitar um emprego aumentaram quase 6% e o número de inactivos desencorajados na procura de trabalho disparou mais de 39%.
O diagnóstico muito negativo do mercado laboral feito pelo INE contrasta com alguns sinais menos agrestes publicados ontem pelo Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP). O número de desempregados inscritas nos centros do IEFP aumentou 16% em Abril face ao mesmo mês de 2009, tendo estabilizado 0,2% face a Março. O desemprego não baixava há 11 meses, frisou o IEFP.
Corte de 30% nos salários? Paul Krugman, economista da Universidade de Princeton, prescreveu, esta semana, a receita que muitos outros especialistas deram para os males da economia portuguesa. Segundo o prémio Nobel da Economia, Portugal só pode vencer a crise se os salários caírem entre 20% a 30% face aos níveis praticados na Alemanha, tipicamente a economia mais competitiva da Europa. Hoje, o salário per capita nacional médio já vale menos de metade do valor praticado na Alemanha. Luís Reis Ribeiro.
FONTE: http://www.ionline.pt/conteudo/60547-grupo-pessoas-que-ganha-mais-3000-euros-aumenta-23
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