A organização Repórteres Sem Fronteiras, que tem como objectivo a defesa da liberdade de imprensa no mundo, condenou hoje a atitude do deputado socialista Ricardo Rodrigues por ter levado gravadores de jornalistas que o entrevistavam.
"Estamos escandalizados com este comportamento surrealista que só tem paralelo em certos responsáveis políticos dos países mais rígidos", referiu a organização num comunicado divulgado pelo representante da organização junto da União Europeia, Olivier Basille.
A revista Sábado divulgou na quarta-feira passada um vídeo em que mostra o deputado Ricardo Rodrigues a levar os gravadores de dois jornalistas da publicação durante uma entrevista e na sequência de perguntas de que não gostou.
Confrontado com perguntas sobre as suas ligações a um antigo processo de burla nos Açores e a casos de pedofilia, o deputado levantou-se, enfiou os dois gravadores dos jornalistas nos bolsos das calças e saiu da sala, mas esqueceu-se que a entrevista estava a ser filmada. A revista apresentou, entretanto, queixa no DIAP.
"O roubo do material e a atitude perante a imprensa são pura e simplesmente indignos da parte de um deputado da Assembleia da República", refere a Repórteres Sem Fronteiras.
"Não satisfeito, após se ter apoderado ilegalmente do material da equipa da Sábado, o deputado pretendia censurar a revista no dia internacional da Liberdade de Imprensa, acrescenta a organização.
No dia 3 de maio, Ricardo Rodrigues apresentou uma providência cautelar para impedir a publicação da entrevista, anexando ao processo os dois gravadores, sendo que a revista ainda não recebeu o material de volta.
A organização internacional "exige" agora que os gravadores sejam devolvidos, sublinhando que "nada justifica que o tribunal conserve estas 'provas' obtidas por roubo e que ainda por cima estão disponíveis na página internet da revista".
A RSF alerta ainda o tribunal para o facto de os gravadores conterem entrevistas de outras pessoas.
"Roubando-as, Ricardo Rodrigues atentou de forma grave contra a protecção do segredo das fontes e poderia ser responsabilizado pelas eventuais consequências que teria a perda de confidencialidade dessas mesmas informações", acrescentou a Repórteres sem Fronteiras.
A RSF admitiu ainda ter ficado "atónita" com a "ausência de reacções por parte da classe política" e nomeadamente do PS.
"Não é possível denunciar legitimamente os ataques à liberdade de imprensa no mundo e, simultaneamente, tolerar este tipo de comportamento de um dos mais importantes representantes do partido", afirma.
"Da mesma forma, sem desejarmos um linchamento político, esperávamos uma condenação mais firme por parte da Assembleia da República em resposta aos actos de um dos seus deputados. Este silêncio é inaceitável", concluiu.
FONTE: http://dn.sapo.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=1567212&seccao=Media
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário