3 de maio de 2010

Roubos de tabaco atingem um milhão

2010: Ataques a carrinhas e a armazéns não param de afectar o sector

Perto de um milhão de euros foram roubados em tabaco só no primeiro trimestre deste ano. Entre Janeiro e Março foram assaltadas trinta carrinhas de distribuição (com carregamentos que equivalem a dez mil euros), que correspondem a 300 mil euros, e furtados dois armazéns, num prejuízo de cerca de 400 mil euros. Feitas as contas, 700 mil euros. Isto sem contar com as máquinas roubadas de cafés e restaurantes. O valor do prejuízo pode chegar a perto de um milhão.

Os números avançados pela Associação Nacional de Grossistas de Tabaco dão conta da realidade dura e crua de um sector assolado por assaltos violentos. "É frustrante não ter uma resposta clara a dar aos empresários que estão a ficar desesperados e já pensam em fechar as portas", referiu ao CM Carlos Duarte, presidente da Associação.

A tendência é de crescendo. No total, em 2009, foram roubadas 83 carrinhas, três armazéns e 500 máquinas dos estabelecimentos. "Todos os anos os assaltos aumentam e as consequências são trágicas: as seguradoras já não renovam as apólices devido aos prejuízos. Este ano há uma viragem: menos assaltos do que no primeiro trimestre do ano passado, mas o valor levado é bem maior, porque só nos dois armazéns roubados foram levados 400 mil euros em tabaco. Precisamos de respostas, porque em breve podemos perder vidas", alerta.

Altamente profissionais, bem armados e violentos, cada vez mais os ladrões usam facas, pistolas e até metralhadoras. Mas o terror não termina aqui: na maior parte das vezes os condutores são sequestrados e agredidos. Depois são abandonados em locais ermos. "Estamos decepcionados com a forma como nos tratam. Os assaltantes usam armas e quando são presentes ao juiz nada acontece. As forças de segurança até podem actuar bem, mas a Justiça não está do nosso lado", finaliza Carlos Duarte. Para fazer face ao problema têm sido adoptadas medidas preventivas, como o carregamento de apenas metade da mercadoria, mas "isso não garante que os funcionários não são agredidos".

MODUS OPERANDIS DOS ASSALTANTES


Há muito que a polícia tenta combater o flagelo dos roubos a carrinhas de distribuição que envolvem sequestro. Para tal foram feitos vários estudos que estabelecem o estilo dos grupos que assaltam, o modo de actuação, os locais onde ocorrem mais assaltos bem como as distribuidoras que têm sido alvo dos roubos. Fonte policial disse ao CM que já há pontos identificados pelos assaltantes, uma vez que muitos deles já conhecem bem os percursos. Uma das certezas é de que se trata de um crime profissional uma vez que a maior parte dos grupos consegue fugir e que o produto é rapidamente escoado.

NÚMEROS

7 milhões


Sete milhões de euros é o valor que renderam os roubos de tabaco em 2009 em Portugal.

3 mil


Foram roubadas mais de três mil máquinas de tabaco em todo o País, só em 2009, num prejuízo calculado de 4,5 milhões de euros.

2 mil

A zona Norte foi o alvo preferencial dos assaltantes com duas mil máquinas de tabaco roubadas. O ano passado foi dos mais dramáticos para as empresas de distribuição de tabaco, com 72 carrinhas atacadas e, pelo menos, dois armazéns.

500

Em segundo lugar surge Lisboa onde foram roubada cerca de 500 máquinas de tabaco, seguindo-se o Alentejo e o Algarve com mais de 200 máquinas roubadas durante o ano passado.

ESTADO LUCRA 30 MILHÕES/DIA

Mesmo com o contrabando do tabaco a aumentar e apesar da crise, as receitas para os cofres do Estado do imposto sobre o tabaco teve um crescimento abismal. Segundo os dados da Direcção Geral do Orçamento (DGO), nos primeiros três meses do ano o encaixe foi de 270,9 milhões de euros. É uma subida de mais de 90 por cento face ao mesmo período de 2009, onde o Estado lucrou 141,9 milhões de euros.

Segundo a DGO, este crescimento a pique justifica-se com as alterações na forma como o Estado cobra esta receita fiscal, nomeadamente a "taxação do produto antes de distribuição e venda", o que dificulta, mas não impossibilita, a fuga fiscal.

O Estado arrecadou assim trinta milhões de euros por dia com o tabaco.

As alterações foram introduzidas depois de quase uma década em que o contrabando, falsificação e a quebra do consumo levavam a receitas anuais que rondavam apenas os 240 milhões de euros.

A carga fiscal no tabaco continua, contudo, acima da média da União Europeia. Por exemplo, um maço que custe 3,40 euros paga só em impostos 2,90 euros, dois terços do seu valor total. Luís Rebelo, presidente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo (COPPT), não tem dúvidas de que os impostos "são o principal travão ao consumo" em Portugal. Isto porque apesar da subida das receitas, o facto de se cobrar antes da distribuição e venda implica que mesmo o tabaco que não é consumido pague uma taxa.

A União Europeia arrancou com um projecto para que o imposto de consumo sobre o tabaco fosse igual entre os países membros de forma a evitar o contrabando. A medida seria benéfica para os portugueses porque implicaria uma redução da carga fiscal no tabaco e, previsivelmente, preços mais baixos.

MERCADO NEGRO CRESCE


As autoridades suspeitam de que a carga roubada de armazéns e carrinhas nos últimos anos, em elevadas quantidades, acaba por abastecer cafés e outros estabelecimentos, num negócio lucrativo, mas à margem da lei, uma vez que se trata de um produto de fácil escoamento. O aumento dos preços e dos impostos sobre o tabaco só contribui para este fenómeno, que vem a acentuar--se, associado ao contrabando com ligações, sobretudo, a Espanha.

PJ DETÉM DOIS ASSALTANTES

A PJ deteve, no passado dia 22 de Abril, dois homens suspeitos de em Agosto do ano passado terem sequestrado e agredido um funcionário de uma empresa de distribuição de tabaco, em Lisboa, e roubado cerca de 1600 euros em dinheiro e caixas de tabaco. A monte continuam outros três elementos do grupo de assaltantes.

ROUBOS COM VIOLÊNCIA

Um veículo ligeiro de mercadorias, que transportava tabaco e que circulava no IC9, em direcção a Ourém, foi imobilizado, sob ameaça de armas, em Dezembro de 2009. Os ladrões levaram o veículo. Na mesma altura, um grupo de assaltantes sequestrou dois camionistas da Tabaqueira na A1, próximo de Pombal.

PROFISSIONAIS FAZEM ROUBO MILIONÁRIO


O assalto mais espectacular aconteceu em plena auto-estrada no dia 13 de Abril do ano passado. Em apenas dez minutos, na A3 – numa zona próxima do nó de acesso a Cruz, em Vila Nova de Famalicão –, doze homens (que a PJ presume que sejam estrangeiros) armados e encapuzados interceptaram um camião, interromperam a circulação automóvel, sequestraram o motorista e a escolta de segurança – que acompanhava o camião – e fugiram com cerca de cem mil maços de tabaco, avaliado em mais de 320 mil euros. Para a Polícia Judiciária, o assalto foi preparado ao pormenor e revela um alto grau de profissionalismo. Os ladrões empunhavam armas de pequeno calibre e usaram carros usados.

NOTAS


ESTABELECIMENTOS: PREJUÍZOS

Além dos prejuízos para as empresas de transporte e para a Tabaqueira, há que contabilizar os avultados prejuízos nos estabelecimentos que tinham máquinas de venda de tabaco

RASI: CRIME EM SUBIDA

De acordo com os dados do Relatório Anual de Segurança Interna, o roubo de tabaco foi um dos crimes que mais cresceu em 2009 face ao ano anterior

TOMAR: MOTORISTA FERIDO


Em Janeiro deste ano, em Asseiceira, Tomar, o motorista de uma viatura de transporte de tabaco ficou ferido ao escapar de cinco homens que tentaram roubar a mercadoria

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