5 de maio de 2010

Hospital de S. João detecta fraude com 70 funcionários


Faziam massagens em clínica privada a custo zero


Cerca de 70 funcionários do Hospital de S. João, no Porto, estarão envolvidos num esquema de fraude à ADSE, com prejuízos para o hospital superiores a 100 mil euros. As irregularidades foram detectadas pela Administração, que apresentou queixa à PGR e abriu um inquérito.

Contactada pelo JN, A administração do Hospital de S. João não quis precisar o número de trabalhadores envolvidos nem o valor dos prejuízos. Mas admitiu que instaurou um processo de inquérito a um conjunto de funcionários, depois de uma auditoria interna ter detectado uma série de facturas provenientes de uma só clínica que levantavam suspeitas de irregularidades. "Houve indícios que justificaram entregar uma queixa à Procuradoria-Geral da República, que está a investigar", afirmou a direcção do Hospital de S. João, sem acrescentar mais pormenores.

O esquema, apurou o JN, passava por efectuar tratamentos corporais numa clínica privada do Porto a custo zero, com a comparticipação da ADSE. Os trabalhadores, maioritariamente mulheres, pediam uma receita a um médico para tratamentos de drenagem linfática - por exemplo às pernas - e dirigiam-se à clínica, no centro do Porto, onde recebiam massagens corporais que não correspondiam ao tratamento receitado.

Ao que o JN conseguiu apurar junto de fonte hospitalar, não está estabelecida qualquer relação entre os médicos que passaram as receitas e a clínica em causa. Também não há ligação aparente entre os funcionários que aderiram ao esquema fraudulento. O fenómeno começou numa determinada área do hospital e alastrou.

Facturas de 2100 euros


Depois dos tratamentos, os funcionários apresentavam ao hospital as facturas emitidas pela clínica com a designação "60 sessões - massagem de drenagem linfática com correntes farádicas", no valor de 2100 euros, para efeitos de reembolso da ADSE (80%). O "S. João" reembolsava os funcionários com a quantia correspondente à comparticipação (1680 euros) que, supõe-se, acabaria por ser entregue, total ou parcialmente, à clínica.

O número de facturas que chegou ao hospital nos últimos meses do ano passado, sempre da mesma clínica, terá sido superior a 70. Haverá trabalhadores que terão entregue até três facturas para reembolso, correspondentes a um total de 180 sessões de massagens de drenagem linfática. O aumento das facturas, a proveniência das mesmas e a semelhança entre si levantou suspeitas nos serviços. A desconfiança cresceu quando se verificou que os dados referentes ao emissor das facturas não eram fidedignos.

O JN teve acesso a um desses documentos e constatou que o número de telefone não se encontra atribuído e a morada corresponde a um andar na Rua do Bolhão, no Porto, provavelmente desocupado (ler peça ao lado). A factura é emitida em nome de Clínica Saúde Humana.

Apesar de os dados não corresponderem, as autoridades já terão conseguido identificar a proprietária da clínica. Acredita-se que o mesmo esquema poderá ter sido usado noutros hospitais da região.

Os factos apurados no inquérito aberto pelo "S. João" podem culminar em processos disciplinares contra os cerca de 70 funcionários.

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