9 de fevereiro de 2011

Dirigente do PS acusa partido de apagar críticos das actas

Rómulo Machado pediu resumos das reuniões da Comissão Nacional e diz que intervenções foram "manipuladas e invertidas"

O dirigente do PS Rómulo Machado acusa a direcção do partido de manipular as actas das reuniões da comissão nacional com o objectivo de ocultar as intervenções em que são feitas críticas à actual liderança de José Sócrates.

Rómulo Machado conta ao i que a prática no partido é aprovar as actas sem serem lidas, mas argumenta que, depois de ler todos os resumos das reuniões da comissão nacional, percebeu que estas "estavam a ser completamente manipuladas".

"As intervenções críticas foram, na esmagadora maioria dos casos, manipuladas. Este tipo de maquilhagem não é próprio de partidos ou estados democráticos, sendo, pelo contrário, abundante nos regimes totalitários de que as famosas fotografias com a presença de Trotsky, manipuladas pela propaganda estalinista, são apenas um exemplo.", afirma este dirigente socialista, que dá alguns exemplos de intervenções suas contra o líder do partido ou com reparos ao governo que foram "completamente manipuladas e algumas até invertidas".

Rómulo Machado diz que numa das reuniões criticou "o culto da personalidade ao secretário-geral existente no partido" e que a acta resume a sua intervenção dizendo que "existe uma excessiva identificação do secretário-geral com o governo".

"Noutro caso fiz uma intervenção em que discordava frontalmente do reduzido tempo que era dado aos membros da comissão nacional para falarem e a acta dizia apenas que eu tinha falado sobre o tempo disponibilizado para intervenções, omitindo as críticas que fiz", acrescenta o dirigente socialista.

Em entrevista ao i, o ex-deputado socialista Henrique Neto referiu-se igualmente a este assunto e afirmou que "as actas da comissão nacional ou não são feitas ou não são votadas, porque não correspondem minimamente àquilo que lá se passou". O antigo dirigente do partido acusou o presidente do PS, Almeida Santos, de "controlar tudo" e de "só dar a palavra a quem verdadeiramente ele quer".

Rómulo Machado tem sido um dos críticos da liderança de José Sócrates no interior do PS e na última reunião da comissão nacional fez um apelo aos que "têm estado no limbo da sucessão para avançarem agora, para não esperarem pelo descalabro total para se apresentarem", defendendo que o partido necessita de "uma nova liderança e de um novo projecto" para evitar o regresso do PSD ao poder.

O dirigente socialista, que pertence à corrente de opinião esquerda socialista, considera "gravíssima" a posição da actual direcção em relação aos críticos e afirma que nas reuniões da comissão nacional o tempo das intervenções "é limitado com o objectivo de limitar as críticas". Rómulo Machado escreveu re- centemente ao secretariado do PS a queixar-se da forma como são elaboradas as actas e já informou o presidente do partido, Almeida Santos, sobre o mesmo assunto. "Uma coisa é as actas não reflectirem exactamente o que se diz. Outra coisa é verificar que as intervenções críticas estão a ser completamente manipuladas", diz.

FONTE: http://www.ionline.pt/conteudo/103519-dirigente-do-ps-acusa-partido-apagar-criticos-das-actas

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