Milhares de inscritos nos cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA) não sabem se vão ou não ter aulas no próximo ano lectivo, pois ainda não está garantido o financiamento do Programa Operacional Potencial Humano.
"Se as novas turmas forem suspensas é uma pena. Nem penso em mim, é mais nos colegas de 30 e 40 anos que precisam destes cursos para subirem nos seus postos de trabalho. Conheço muitos que andam de esfregona na mão, porque não têm formação qualificada", lamenta Fernando Jorge, de 71 anos, que se inscreveu no curso de Técnico de Electrónica e Automação de Computadores na Escola Secundária do Monte da Caparica (Almada). Nesta escola, já se inscreveram "largas dezenas" de alunos, mas, devido à falta de garantia de financiamento, a direcção da escola apenas garante a continuação dos 2º e 3º anos.
Já a direcção da Escola Secundária de Camões, em Lisboa, "depreendeu que o processo se mantém como no ano anterior, apesar de informalmente ter sido convidada a não distribuir aos professores este serviço enquanto as turmas não estiverem homologadas". Como tal, estão previstas duas turmas EFA, que deverão iniciar as aulas a partir de 15 de Setembro de 2011. "Não faz sentido que turmas previstas há bastante tempo sejam suspensas numa altura em que a distribuição de serviço das escolas já está feita", lamenta Manuel Beirão, director-adjunto para o Ensino Nocturno da Escola Secundária de Camões.
Manuel António Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, reconhece que o impasse "tem gerado algum prejuízo". "Logo que haja autorização de financiamento podemos avançar com a formação das turmas", o mais tardar no início de Setembro.
"TER O 12.º É O MÍNIMO"
"Vão cortar as pernas a muitas pessoas, que de outra forma não tinham possibilidade de fazer o 12º ano, que hoje em dia é quase o mínimo para se ter um emprego", comenta Elsa Rocha, de 43 anos, esteticista nas Caldas da Rainha.
Foi através dos cursos de Educação e Formação de Adultos que Elsa Rocha conseguiu concluir o 12º ano de escolaridade. Os cursos, garante, "são benéficos e facilitam bastante a vida". "Consigo aceder a formações na minha área de trabalho que pedem como requisito a escolaridade obrigatória", explica a esteticista. Sobre o eventual corte nos cursos, Elsa refere que, tal como ela, "há pessoas que trabalham ao mesmo tempo que estudam. Quem se esforça acaba por ser penalizado, quando apenas quer adquirir mais conhecimentos", diz.
FORMAÇÃO É MAIS UMA "OPORTUNIDADE"
Lurdes Azevedo, de 49 anos, está preocupada com a possibilidade de não se iniciarem os cursos EFA. Aluna do curso de Técnicos Administrativos no Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário, na Covilhã, que dará equivalência ao 12º ano, está desempregada e vê na formação "mais uma oportunidade para regressar ao mercado de trabalho".
"O curso é bom, os formadores empenham-se na nossa aprendizagem e sinto-me mais preparada. Se esta medida avançar, as pessoas que tiveram que deixar de estudar para trabalhar e que agora gostavam de regressar à escola para poder competir no mercado vão ser de novo prejudicadas", lamenta.
GOVERNO DIZ QUE NOVAS TURMAS "NÃO ABREM JÁ"
O Ministério da Educação esclarece que "as novas turmas dos cursos EFA não abrem já, pois é necessário ajustar o seu funcionamento ao financiamento". Em resposta ao Correio da Manhã, a tutela garante que "as novas turmas abrirão logo que possível. Isto não compromete, no entanto, o funcionamento das turmas de 2º e 3º anos".
O CM solicitou ao POPH esclarecimentos sobre o valor do financiamento e os motivos do atraso na sua atribuição, mas não foi possível resposta devido à ausência no País do Gestor do Programa, Rui Fiolhais.
FONTE: Correio da Manhã
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