Na campanha para a sua reeleição, em Janeiro de 2011, Cavaco Silva já prometia que seria o 'provedor dos portugueses'. Os cidadãos levaram à letra esta condição e só no ano passado chegaram às mãos do Presidente 14344 cartas.
Os dados oficiais indicam um salto quantitativo face a 2010, sobretudo a partir do segundo semestre (quando a troika entrou em Portugal), e revelam que a tendência se mantém neste início de ano. Entre as situações mais dramáticas estão muitos casos dos chamados ‘novos pobres’.
Segundo dados a que o SOL teve acesso, os testemunhos de algum desespero nas missivas relativos a estas situações tendem a multiplicar-se, com muitos casos de pessoas que dispunham de um estilo de vida característico da classe média e agora se vêem confrontadas com a pobreza. «Estou desesperada são 3 horas da manhã e não consigo dormir (…) tenho 57 anos o meu marido 61. Trabalhámos toda a vida e pagámos sempre os impostos e agora não temos nada para comer. (…) Tínhamos um pequeno negócio de restauração, tivemos de fechar por causa da crise, deixei de pagar a loja ao banco (…). Desde Agosto do ano passado que não temos rendimentos (...) o meu marido já fala em pôr fim à vida», lê-se numa carta a que o SOL teve acesso. Outro caso, o de um cidadão com 57 anos e dois filhos na faculdade, que de um vencimento médio mensal de 1485 euros passou a desempregado. «O que devo fazer? Que argumentos deve um pai dar aos seus filhos para os fazer parar de estudar?», interpela ao Presidente.
As situações de desemprego, especialmente quando atingem os vários membros da família, motivam pedidos de auxílio continuados: «A minha família é constituída por quatro elementos e todos nós estamos desempregados, estou com o RSI de 280,19€, tenho 56 anos trabalhei durante 39 anos, (...) os meus filhos são dois jovens com muitos projectos de vida mas sem nada para os poder ajudar».
Mas o fenómeno crescente do endividamento das famílias também tem gerado situações dramáticas. Caso de um cidadão que pediu um empréstimo à Caixa Agrícola para uma casa mas já não consegue pagar porque está desempregado e a sua mulher também. «E agora querem que eu vá para a rua. Agradecia uma ajuda, tenho uma filha que é doente, tem uma paralisia do lado direito desde os 3 anos. Gastei muito com ela e ela agora tem 21 anos. Ela recebia um abonozinho, cortaram-lho...», escreve.
Através destas cartas – que denunciam muitas preocupações ligadas a atrasos no pagamento de pensões e prestações sociais – o Presidente consegue fazer um retrato da conjuntura social e da forma como as políticas e as medidas estão a ser aplicadas e quais as suas consequências.
É, por isso, certo que Cavaco vai dar voz às situações dramáticas que muitos portugueses vivem no seu discurso que assinala as comemorações do 25 de Abril, quarta-feira no Parlamento.
Das 14344 missivas que Cavaco recebeu, 7384 cartas foram enviadas por correio e 6960 mensagens por via electrónica. Na maior parte dos casos as situações denunciadas são encaminhadas para os diferentes ministérios através do gabinete do primeiro-ministro. Mas noutros casos, pela sua gravidade, há uma actuação directa de Belém junto de instituições particulares de solidariedade social, da Provedoria da Justiça ou de outras instituições autónomas face ao poder executivo.
Denúncias de 'novos pobres' inundam correio de Cavaco - Política - Sol
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