Trezentos e oitenta e três milhões de euros
movimentados em offshores. O número, astronómico, é o somatório dos
movimentos bancários de uma empresa com sede em Caimão, cujos gestores
são um tio, uma tia e primos do ex-primeiro-ministro José Sócrates. A
escritura da empresa foi feita em Gibraltar em 2000 e os documentos
bancários relativos à mesma encontram-se no Departamento Central de
Investigação e Acção Penal (DCIAP) do Ministério Público.
Fazem
parte do lote de documentos que foram entregues pelo advogado de Mário
Machado, o líder da extrema-direita que se encontra na cadeia, à
Procuradoria-Geral da República, em Junho do ano passado. E sustentam um
processo cuja investigação parece agora ganhar novo fôlego e em que se
pretende apurar a forma como os familiares do ex-primeiro--ministro
conseguiram juntar tão avultadas fortunas.
Segundo
o Correio da Manhã apurou, Mário Machado e Rui Dias, ambos condenados
no processo que envolvia a extrema-direita, já foram ouvidos pelos
magistrados do DCIAP. A primeira vez que foram inquiridos foi em
Fevereiro deste ano, ainda por uma procuradora do DIAP, tendo depois
sido inquiridos em Junho por um magistrado do DCIAP.
O
processo está neste momento nas mãos do departamento liderado pela
magistrada Cândida Almeida e estão previstas para breve novas
diligências. Os familiares de José Sócrates também deverão ser ouvidos,
para explicar a posse de tais verbas.
FRAUDE FISCAL PRESCREVEU
Júlio
Monteiro, outro tio de José Sócrates, declarou, entre 2000 e 2004, 62
mil euros ao Fisco. Mas nas suas contas foram depositados mais 1,277
milhões de euros no mesmo período, sendo que a eventual fraude fiscal
tinha prescrito quando foi detectada. Os valores foram apurados pela
investigação do caso Freeport, em que o tio do ex-primeiro-ministro José
Sócrates nunca chegou a ser constituído arguido.
MUITAS PERGUNTAS NO CASO FREEPORT QUE FICARAM SEM QUALQUER RESPOSTA
Os
procuradores do processo Freeport assinaram a acusação, dizendo que
gostariam de ter ouvido José Sócrates. Os magistrados argumentaram na
altura que não o puderam fazer porque receberam determinações superiores
para encerrar a investigação, o que impossibilitou a inquirição do
então primeiro-ministro. "Confirma a recepção, na sua residência, de uma
carta que lhe terá sido dirigida por Manuel Pedro, tratando-o por "Caro
amigo?", era a primeira pergunta das 27 que os magistrados enumeravam.
Outra questão que ficou sem resposta foi se o primeiro-ministro
confirmava "ter havido um apoio efectivo da família Carvalho Monteiro
[tio e primos de Sócrates] ao licenciamento do Freeport". Também não
perguntaram se encontrava "alguma explicação" para o teor das
declarações produzidas nos autos pelo seu primo Hugo.
MORGADO ENVIA DOCUMENTO PARA CÂNDIDA ALMEIDA
Os
documentos entregues pelo advogado de Machado na Procuradoria-Geral da
República foram primeiro encaminhados para o DIAP de Lisboa,
departamento liderado por Maria José Morgado. Recentemente, e por
entenderem ser o DCIAP de Cândida Almeida competente para a
investigação, os elementos foram para aí enviados. Está em causa o facto
de alguns papéis já terem sido analisados no âmbito do Freeport.
FONTE: Correio da Manhã
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