O Conselho de Administração da Assembleia da República manifestou-se,
mais uma vez, contra a introdução da água da torneira nas reuniões
parlamentares, argumentando que o seu custo é quase 30 vezes superior ao
da água engarrafada.
A ideia de acabar com as garrafas de água mineral
no Parlamento tem vindo a ser defendida pelo Partido Socialista, como
um exemplo contra a produção desnecessária de resíduos. Uma primeira
tentativa, em 2010, aplicável a toda a Assembleia da República, recebera
um parecer desfavorável do Conselho de Administração.
Em
Novembro passado, o PS apresentou uma nova proposta, para servir água da
torneira pelo menos nas reuniões da Comissão do Ambiente, do
Ordenamento do Território e do Poder Local. Mas a ideia foi chumbada
pela maioria dos deputados na comissão, a qual solicitou, por proposta
do PSD, uma avaliação dos custos e benefícios de diversas alternativas
para o fornecimento de água.
A conclusão foi enviada há dias aos deputados e brevemente discutida nesta terça-feira na Comissão de Ambiente.
Num
documento enviado aos deputados, o Conselho de Administração do
Parlamento sustenta que a água engarrafada servida nas reuniões da
comissão custa 259,20 euros por mês. Para a água da torneira, o valor a
que se chegou foi muito maior. O cálculo incluiu os custos de pessoal
“para o enchimento, limpeza, colocação e arrumo dos vasilhames” e chegou
à cifra de 2730 euros – cerca de dez vezes o valor para a água mineral.
O Conselho de Administração também considerou o custo dos jarros em si,
avaliados em 4680 euros – o equivalente a 18 meses de água mineral.
“Face
aos encargos evidenciados, o Conselho de Administração pronunciou-se
favoravelmente à utilização de água engarrafada, considerando que o
respectivo uso, enquanto recurso geológico nacional distribuído por
empresas portuguesas, assegura as melhores condições aos utilizadores
internos e aos convidados da Assembleia da República, a um custo sem
significado financeiro”, conclui o documento.
Para o próximo
concurso de fornecimento de água, previsto para Julho, o Conselho de
Administração sugere que se exijam garrafas de vidro, reutilizáveis.
Quando
apresentou a sua proposta, o PS citou números a dizer que, de Janeiro a
Novembro de 2010, consumiram-se no Parlamento 35 mil litros de água
mineral, em 45 mil garrafas plásticas de 330 mililitros, duas mil
garrafas de litro e meio e 78 mil copinhos de plástico.
O
deputado socialista Pedro Farmhouse, autor da iniciativa, estranhou os
números agora apresentados pelo Conselho de Administração e levantou a
questão na reunião da comissão. "Fiquei surpreendido", afirma,
mencionando que não só não há uma explicação concreta de como se chegou
àqueles valores, como eles chocam com outros apresentados em 2010 também
pela administração da Assembleia da República. "Vou escrever uma carta a
pedir esclarecimentos ao Conselho de Administração", refere Pedro
Farmhouse.
Em pareceres elaborados em 2010, o custo com a
aquisição de 100 jarros - para todas as comissões e para o plenário do
Parlamento - estava orçado em 1300 euros. A mudança para a água da
torneira implicaria uma redução dos custos directos de cerca de 8800
euros para pouco menos de 1400 euros. Mas a questão da necessidade de
encher e lavar os jarros era já nessa altura apontada como um problema.
António
Couto dos Santos, presidente do Conselho de Administração da Assembleia
da República, explicou que para um serviço destes seria necessário
alguém presente nas comissões do Parlamento. “Estas pessoas teriam que
ser pagas para estar lá durante o tempo todo da comissão para ir buscar e
trazer a água”, disse ao PÚBLICO.
As comissões no Parlamento
duram várias horas. Actualmente a empresa que está de apoio às comissões
coloca as garrafas e os copos antes de a reunião iniciar. O deputado do
PSD referiu ainda as dificuldades práticas se o sistema fosse alterado.
“Onde é que iam buscar a água?”, questionou. Naquela região do edifício
a água canalizada só existe nas casas de banho, a cozinha está noutro
lado da AR, uma terceira alternativa seria a construção de canalização
de propósito para abastecer as salas de comissões.
“É um absurdo
populista que até custa a acreditar que venha de deputados”, resumiu
Couto dos Santos. “Se isso é a resolução dos problemas do país? Temos
tanto para nos ocupar.”
FONTE: Jornal Público
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