BCP, BES e CGD já desistiram de recuperar dívidas do empresário. Perdas
já foram provisionadas e reflectidas nos respectivos balanços.
A dívida de Joe Berardo à CGD, ao BES e ao BCP já foi provisionada
pelas respectivas instituições financeiras, tendo os três bancos
desistido de recuperar uma parte substancial dos empréstimos concedidos
ao empresário.
Este incumprimento é mais um passo para afastar um dos homens fortes de
José Sócrates na banca do próximo aumento de capital do BCP, que deverá
rondar os 500 milhões de euros.
Noutra frente, a da sua fundação, é o próprio governo a equacionar a
sua permanência ou não no Centro Cultural de Belém. Em causa está o
protocolo assinado em 2006 entre Joe Berardo e a então ministra da
Cultura, Isabel Pires de Lima, com vista à constituição da Fundação de
Arte Moderna, Colecção Berardo, cujo espólio absorve uma parte
importante do espaço e do orçamento do Centro Cultural de Belém. No BCP,
é dado como assente que o empresário não vai conseguir acompanhar o
aumento de capital previsto, de 500 milhões de euros.
Recorde-se que o comendador Joe Berardo recorreu a um crédito de mil
milhões em 2007 junto da CGD, então administrada por Santos Ferreira e
Armando Vara, para comprar acções do BCP, que hoje estão avaliadas por
menos de um décimo da sua cotação à data da compra.
Quanto ao BES e ao BCP, desconhece-se o montante da divida, mas o i
sabe que quer o banco ainda presidido por Carlos Santos Ferreira, quer a
instituição liderada por Ricardo Salgado também não conseguiram
recuperar os créditos junto do empresário madeirense, tendo já
incorporado uma parte significativa das perdas nos resultados dos
respectivos bancos.
No âmbito da intervenção da troika, este e outros créditos concedidos
pela banca portuguesa, bem como as respectivas garantias, têm estado a
ser passados a pente fino.
A hipótese de Berardo manter-se no conselho de remunerações do BCP é
também considerada “muito difícil, quase impossível” por várias fontes
do sector contactadas pelo i.
Ontem, Nuno Amado, em trânsito da liderança do Santander Totta para o
BCP, disse aos jornalistas estar “confiante” perante o novo desafio,
ainda que admita que a missão que tem pela frente não será fácil.
Sem querer adiantar muito, uma vez que, segundo o próprio, a
assembleia-geral que formalizará a sua entrada no maior banco privado
por gestão de activos só se realizará no final de Fevereiro, Amado
adiantou ainda assim que foi “uma decisão bem tomada” ter trocado o
Santander Totta pelo Banco Comercial Português.
CCB A colecção de Joe
Berardo mantém-se, por enquanto, no Centro Cultural de Belém, pese o
estrangulamento que o acordo assinado com a ex-ministra da Cultura de
José Sócrates tem implicado ao longo dos últimos anos num dos mais
importantes pólos culturais do país.
António Mega Ferreira, que estava na presidência do CCB quando foi
feito o acordo entre o empresário e o ex-governo de Sócrates, opôs-se
frontalmente ao negócio que o agora secretário de Estado da Cultura diz
ser “ruinoso” para o Estado português.
O verniz estalou entre Mega Ferreira e Joe Berardo quando este último
defendeu publicamente a demissão do primeiro da presidência do Conselho
de Fundadores da Fundação Colecção Berardo. O comendador chegou a acusar
o presidente do CCB de nunca ter visitado as obras e não ter colocado a
bandeira do museu à entrada do Centro Cultural de Belém.
Em contrapartida, Mega Ferreira afirmou que, se soubesse quando chegou
ao cargo que o governo iria instalar a colecção Berardo em todo o centro
de exposições e que a Cultura iria cortar os seus apoios anuais,
“provavelmente não teria aceitado o convite”.
O i tentou falar, sem sucesso, com Vasco Graça Moura, que ocupa
agora o lugar deixado por Mega Ferreira desde a semana passada, por
escolha do secretário de Estado da Cultura de Passos Coelho.
Mas ao que conseguimos apurar, as críticas levantadas ao negócio são
idênticas. Em primeiro lugar, porque todo o espaço de exposições do CCB
passou a ser ocupado pela colecção de arte contemporânea do comendador.
Depois, porque o centro cultural deixou de ter verbas disponíveis para
trazer para Portugal importantes exposições temporárias de artistas
internacionais, como sempre aconteceu até 2006.
A decisão final sobre o futuro do protocolo assinado entre Berardo e
Sócrates está agora nas mãos do executivo. E da própria troika, que
também está a analisar o negócio, em linha com o que acontece com muitas
outras parcerias com privados que têm um enorme peso no orçamento de
Estado.
FONTE: Jornal i
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