A Associação de Professores de Português (APP) "lamenta" as declarações do secretário de Estado da Cultura sobre possíveis alterações ao Acordo Ortográfico (AO), e considera que se anda "a brincar" com o Ensino.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da APP, Edviges Ferreira, afirmou que "é de lamentar as declarações do secretário de Estado [da Cultura], e também que entre os governantes não haja acordo".
A responsável recordou que "saiu uma portaria do Ministério da Educação, segundo a qual os professores são obrigados a aplicar o novo Acordo Ortográfico a partir do ano lectivo 2011/12, a decorrer".
"E agora com que cara vão dizer aos alunos que cada um escreve como entende", questionou a docente. "Andam a brincar com o ensino, com os professores, com os alunos, com os pais, com toda uma comunidade", disse.
Para a presidente da APP as declarações de Francisco José Viegas "destoam da contenção orçamental que nos é exigida", referindo os gastos já feitos com "os manuais escritos já impressos segundo as novas regras" e os que implica a reformulação das regras.
Edviges Ferreira disse ainda que "as declarações do secretário de Estado são muito contraproducentes do ponto de vista pedagógico"
O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, afirmou na terça-feira a uma estação televisiva seria "possível efectuar ajustamentos em alguns casos, relacionados com as palavras de dupla grafia e as sequências consonânticas".
"Temos essa possibilidade e eu acho que vamos usá-la. Temos de aperfeiçoar aquilo que há para aperfeiçoar", disse o governante no programa televisivo, admitindo que não gostava de algumas regras.
Contactado pela agência Lusa sobre estas declarações, o gabinete do SEC indicou na quarta-feira que Francisco José Viegas "tem tido um papel pedagógico nas suas declarações sobre o AO, no sentido de explicar e clarificar quais as possibilidades em aberto para a ortografia a adoptar em Portugal, no período que antecede a entrada em vigor do AO em 2015, e seguindo a redacção do mesmo acordo".
Declarações que motivaram estranheza por parte do linguista brasileiro Godofredo de Oliveira Neto, que participou na Comissão responsável pelas negociações do Novo Acordo Ortográfico.
Em declarações à Lusa, Oliveira Neto afirmou: "É estranho. O período de adaptação vai até Dezembro deste ano e Portugal já passou por todos os trâmites jurídicos e políticos. Uma coisa é a concordância, porque há discordâncias também no Brasil, mas outra coisa seria querer rever as regras".
O professor catedrático português, Carlos Reis, apoiante do Acordo Ortográfico (AO), afirmou que não se opõe a "ajustamentos pontuais" no documento, mas sublinhou que "um Estado sério e responsável deve cumprir aquilo a que se comprometeu".
Especialista na obra de Eça de Queirós, Carlos Reis disse à Lusa que esses ajustamentos "não podem ser feitos de forma unilateral e casuística".
"Infelizmente, em matéria de política de língua, o actual Governo parece ir pelo mesmo caminho do anterior, ou seja, vacilação e ambiguidade, pequenos avanços e grandes recuos", lamentou o estudioso.
FONTE: Correio da Manhã
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