21 de julho de 2011

Gastas 30 mil horas por semana com avaliação de professores

Vinte mil avaliadores foram obrigados a avaliar 118 mil colegas num processo com os dias contados.

O modelo de avaliação de desempenho docente está moribundo. O ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, assegura que a partir do próximo ano irá substituir o actual sistema por outro menos burocrático e mais claro nos objectivos. Chegou, portanto, o momento de fazer o balanço e calcular as horas que todas as escolas gastaram neste processo que está agora na recta final e foi contestado por docentes de mais de 300 agrupamentos ou escolas. Quase 20 mil professores tiveram de avaliar mais de 118 mil colegas.

Segundo os dados do Ministério da Educação, cada relator (professor avaliador) teve em média cinco professores para avaliar e uma hora e meia por semana do seu tempo para fazer essa tarefa. Contas feitas, o ensino público consumiu ao todo 30 mil horas por semana neste processo, o que equivale a 1250 dias no total.

Os números têm por base as horas que a anterior tutela atribuiu aos docentes para avaliarem os colegas. Daí que professores e directores façam questão de esclarecer que este tempo pode variar, uma vez que não tem em conta o facto de os professores terem sob a sua responsabilidade a avaliação de colegas que pediram aulas assistidas - condição essencial para as notas de mérito.

"Há uma enorme variação de caso para caso. Os 90 minutos semanais poderão ser mais do que suficiente para os relatores que avaliam colegas sem aulas assistidas; esse mesmo tempo pode ter sido ultrapassado para os que tiveram a seu cargo os candidatos às classificações de topo", avisa Paulo Guinote, professor da Escola Básica Mouzinho da Silveira (Moita), explicando ainda que enquanto houve escolas que obrigaram os professores a entregar a avaliação em suporte multimédia, outros estabelecimentos aceitaram os documentos em papel.

Nada melhor que um exemplo concreto para ter uma estimativa do tempo que os relatores terão gasto com o actual modelo. José Rafael, professor de Português da Secundária Oliveira do Douro, em Gaia, avaliou seis colegas (dois com aulas assistidas) e, durante oito semanas, usou em média quatro horas semanais só para definir critérios e preencher as grelhas de avaliação.

O avaliador tem de apreciar relatórios de auto-avaliação e preencher fichas com dezenas de páginas e dezenas de "indicadores" que se multiplicam por "domínios", subdividem-se em "níveis" ou se reproduzem em "dimensões", em conceitos ou em temas associados. "A este tempo será preciso ainda acrescentar as quatro aulas assistidas, que totalizam seis horas, e ainda seis reuniões de uma hora com os avaliados. A boa notícia, diz José Rafael, é que este processo está praticamente concluído. Agora a "dor de cabeça" passa para a comissão de coordenação da avaliação, um júri composto pelo director e mais quatro docentes nomeados pelo conselho pedagógico de cada escola. São eles que determinam quem são os merecedores das notas - insuficiente, suficiente, bom, muito bom e excelente - em função das quotas para cada agrupamento. "Por mais que as escolas tentem ter critérios universais é impossível atribuir uma classificação rigorosa, tendo em conta a subjectividade deste modelo", censura Adalmiro Fonseca, dirigente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas.

FONTE: Jornal i

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