O teste intermédio de Matemática do 9.º ano foi “excessivamente complexo” e “completamente desadequado”, dizem as associações de professores.
A pouco mais de um mês do exame de Matemática do 9.º ano de escolaridade, o Gabinete de Avaliação Educacional (Gave), do Ministério da Educação, lançou o caos nas escolas, ao apresentar um teste intermédio, na quinta-feira, que as associações de professores consideram “excessivamente complexo” e “completamente desadequado” ao programa que ainda está a ser implementado na grande maioria dos estabelecimentos de ensino.
“Isto é muito simples: esta prova não serve para avaliar aquilo que foi ensinado nos últimos três anos aos alunos que hoje estão no 9.º ano. O exame nacional – que já deverá estar elaborado – vem na mesma linha? O que é que é suposto professores e alunos fazerem agora, a um mês do exame?”, questiona Raquel Azevedo, da direcção da Associação Nacional de Professores (ANP).
Tanto a direcção desta associação como a da Associação de Professores de Matemática (APM) concordam que, na elaboração do teste, o Gave “ignorou” ou “esqueceu” que o novo programa de Matemática para o ensino básico não foi ainda generalizado ao 9.º ano. “A maior parte dos alunos que agora têm exame fez o 3.º ciclo com base no chamado ‘antigo programa’. A nível do 9.º, o novo só está a ser implementado em escolas-piloto e noutras que se candidataram à sua adopção antecipada”, frisa Elsa Barbosa, da APM.
Em nota enviada ao PÚBLICO, a direcção do Gave sublinha que o teste “está inteiramente de acordo” com o que fora anunciado em Janeiro, quando foi dito que aquele teria “por referência os conteúdos/objectivos comuns aos dois programas de Matemática do ensino básico que estão a ser aplicados no corrente ano lectivo”. Mas essa não é a perspectiva de Raquel Azevedo e Elsa Barbosa.
Ambas mantêm que os conteúdos que foram objecto de avaliação no teste intermédio são realmente comuns, mas frisam que a abordagem corresponde ao novo programa, que aposta nas chamadas capacidades transversais, de resolução de problemas, de raciocínio matemático e de comunicação matemática. “Para além disso, mesmo em relação a alunos das escolas-piloto, o grau de exigência é elevadíssimo, não há uma única pergunta directa, o que é incompreensível. Numa escola de massas temos de fazer testes para massas, ou seja, um aluno trabalhador, empenhado, esforçado com avaliações de 50, 60% a nível interno tem de conseguir obter mais ou menos o mesmo numa avaliação externa, o que é impossível, neste teste”, sublinhou aquela dirigente.
Incluir na avaliação dos alunos?
Elsa Barbosa lembra – tal como o Gave – que os testes intermédios não têm de ser levados em conta pelos professores na avaliação dos alunos. Mas Raquel Azevedo considera que esse “é um problema menor” face ao outro, que se coloca a pouco mais de um mês do exame nacional. “O que vamos dizer aos pais que nos estão a procurar, preocupados? Como acalmamos os alunos que foram absolutamente surpreendidos com este teste? E o que é que vamos fazer, em cima da hora, para os preparar para um exame que pode ser do mesmo género?”, questiona.
Raquel Azevedo defende que “se queria fazer uma viragem tão acentuada em relação às competências exigidas e ao nível de dificuldade das questões", “no mínimo o GAVE devia ter criado um ‘banco’ de questões que servisse de exemplo para professores e alunos”, e devia “ter realizado, pelo menos, mais um teste intermédio, em Fevereiro, à semelhança do que fez no ano passado”. “Pelo menos teríamos tido mais algum tempo para detectar problemas, reflectir e tentar resolvê-los com o Gave”, considera.
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