A facilidade com que o Governo muda de ideias quanto à contenção, ou
não, do défice, e a necessidade, ou não, de novas medidas de
austeridade leva a admitir de duas, uma: que o Governo derrapa mais que o
próprio défice, o que peca por absurdo; ou que o Governo anda a jogar
às escondidas com os portugueses, o que parece mais provável e tem
antecedentes.
Agora, uma nota interna das Finanças, a que jornais tiveram
providencial acesso, avisa os portugueses que o Governo admite medidas
adicionais este ano para compensar desvio.
Desvio do défice? Desvio do Governo? Ainda há dias os jornais falavam
de uma "folga" concedida pela ‘troika' que permitiria ajustar a meta do
défice. Também é verdade que dias antes do Natal o Governo pusera no
sapatinho dos portugueses a ameaça de "ponderar mais austeridade". Mas
uma semana antes, o próprio primeiro-ministro deixara cair que Portugal
iria apresentar um défice inferior ao exigido por Bruxelas. E assim
sucessivamente.
Torna-se assim plausível que o Governo ande a jogar com as
expectativas dos portugueses, apregoando-lhes a campanha da crise
financeira mas para os fazer comprar um pacote de medidas ideológicas
que traz como extras alguns hábitos de vocação de pobreza, como dizia o
velho Botas. Tratar-se-ia, assim, de manter os portugueses sob uma
estratégia de tensão e de medo que os levaria - do mal, o menos - a
aceitar todas as restrições aos direitos económicos e sociais da
civilização.
Surgiu agora, porém, um pauzinho em toda esta engrenagem. Os
trabalhadores dos CTT recorreram para o Tribunal e ganharam o direito de
reaverem os cortes salariais de 2011. Se a moda pega lá se vai a
estratégia da crise e do défice e a táctica da derrapagem e de mais
austeridade.
FONTE: Diário Económico
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