11 de janeiro de 2012

Derrapagem

A facilidade com que o Governo muda de ideias quanto à contenção, ou não, do défice, e a necessidade, ou não, de novas medidas de austeridade leva a admitir de duas, uma: que o Governo derrapa mais que o próprio défice, o que peca por absurdo; ou que o Governo anda a jogar às escondidas com os portugueses, o que parece mais provável e tem antecedentes. 

Agora, uma nota interna das Finanças, a que jornais tiveram providencial acesso, avisa os portugueses que o Governo admite medidas adicionais este ano para compensar desvio.
Desvio do défice? Desvio do Governo? Ainda há dias os jornais falavam de uma "folga" concedida pela ‘troika' que permitiria ajustar a meta do défice. Também é verdade que dias antes do Natal o Governo pusera no sapatinho dos portugueses a ameaça de "ponderar mais austeridade". Mas uma semana antes, o próprio primeiro-ministro deixara cair que Portugal iria apresentar um défice inferior ao exigido por Bruxelas. E assim sucessivamente.
Torna-se assim plausível que o Governo ande a jogar com as expectativas dos portugueses, apregoando-lhes a campanha da crise financeira mas para os fazer comprar um pacote de medidas ideológicas que traz como extras alguns hábitos de vocação de pobreza, como dizia o velho Botas. Tratar-se-ia, assim, de manter os portugueses sob uma estratégia de tensão e de medo que os levaria - do mal, o menos - a aceitar todas as restrições aos direitos económicos e sociais da civilização.
Surgiu agora, porém, um pauzinho em toda esta engrenagem. Os trabalhadores dos CTT recorreram para o Tribunal e ganharam o direito de reaverem os cortes salariais de 2011. Se a moda pega lá se vai a estratégia da crise e do défice e a táctica da derrapagem e de mais austeridade.

FONTE: Diário Económico

Nenhum comentário:

Postar um comentário