José
Bairros Rogério, de 56 anos, assistente operacional no agrupamento de
escolas de Campelos (Torres Vedras), perdeu o emprego, o direito a
subsídio de desemprego e a assistência na doença. “Desde que começou
este inferno ando em depressão”, conta ao CM, a chorar. O caso já está
nos tribunais.
Bairros Rogério recebe uma reforma
por aposentação compulsiva da GNR, desde 1985, e o Estado alega que a
lei não permitia acumular as duas remunerações. Mas o funcionário nunca
ocultou as duas remunerações (salário de 621€ e pensão de 246€) às
Finanças e à Caixa Geral de Aposentações. “É uma decisão repugnante. O
Estado cometeu um erro e mais de 20 anos depois pune um trabalhador, que
agiu de boa-fé, por esse erro”, disse ao CM o advogado de defesa,
Adelino Granja.
O funcionário apresentou queixa em
Outubro, no Tribunal Administrativo de Lisboa, contra o Estado
Português, Ministério das Finanças, secretário de Estado do Orçamento,
MEC e CGA. E dia 2 interpôs providência cautelar, apensa ao processo,
para anular a demissão. O MEC escusou-se a comentar o caso.
Bairros
Rogério começou por assinar um contrato a prazo com o Ministério da
Educação em 1987 e só a partir de 1990 se tornou efectivo, estando
colocado na escola de Campelos desde 1994. Já desempenhou várias
funções, de cozinheiro a motorista.
O pesadelo
começou em 2009, quando a CGA, com base numa acção da Inspecção-Geral de
Finanças, informou o Agrupamento de Campelos que, em 2007, se
verificara uma acumulação de rendimentos.
Em Julho
de 2010, a CGA pediu ao funcionário a devolução de cerca de 9 mil euros
auferidos da pensão entre 2005 e 2010. No mês seguinte, Bairros Rogério
fez um requerimento ao Ministro das Finanças solicitando a não
reposição da quantia. Em Agosto de 2011, um despacho do secretário de
Estado do Orçamento, Luís Sarmento, indefere o pedido e propõe a
demissão de Bairros Rogério. E a 2 de Dezembro de 2011, sai em Diário da
República o despacho do secretário de Estado do Ensino e Administração
Escolar, João Casanova de Almeida, que acata a proposta das Finanças e
declara “nulo” o despacho de nomeação de 1990, atirando o funcionário
para o desemprego.
O advogado Adelino Granja
sustenta que a decisão de Luís Sarmento, que teve a chancela do ministro
das Finanças Vítor Gaspar, vai no sentido contrário ao de três outros
casos de acumulação de remunerações, semelhantes ao de Bairros Rogério,
nos quais as Finanças decidiram que se tratavam de situações
excepcionais. Granja alega ainda que as Finanças extravasaram as suas
competências e entraram na esfera do MEC.
José
Bairros Rogério foi aposentado compulsivamente da GNR com apenas 30 anos
após um processo disciplinar em que foi acusado de receber dinheiro
para não passar uma multa. O caso foi para Tribunal Militar, e acabou
por ser absolvido, mas não foi readmitido na GNR e foi-lhe atribuída uma
pensão que começou por ser de 16 mil escudos (cerca de 80 euros).
“Não
chegava para sobreviver e tive de procurar trabalho. Uns matam e roubam
e nada lhes acontece, eu nunca roubei, nunca escondi nada, fiz todos os
descontos, declarei tudo no IRS e acontece-me isto”, disse Bairros
Rogério.
Na escola onde trabalha desde 1994 a notícia foi recebida com choque. “É um funcionário exemplar”, afirmou ao CM a presidente da Associação de Pais, Cristina Garrido.
Na escola onde trabalha desde 1994 a notícia foi recebida com choque. “É um funcionário exemplar”, afirmou ao CM a presidente da Associação de Pais, Cristina Garrido.
Rogério
ainda vai ter de devolver o salário de Dezembro. Vive com a companheira,
que ganha cerca de 500 euros, e com o filho de 14 anos.
FONTE: Correio da Manhã
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