8 de novembro de 2011

Tribunais deixam assassino à solta

Jorge Enes sentia-se traído cada vez que a mulher se cruzava com um homem. Social e profissionalmente. E num caso levou a obsessão ao extremo – assassinando com 21 facadas o director de Segurança dos CTT, Maurício Levy, que almoçara com Margarida em Lisboa. Confessou à PJ e ao juiz, caçado dois dias depois do crime, a 6 de Dezembro de 2007, mas, passados quatro anos, a Justiça mantém-no à solta.

A prisão preventiva só durou três meses, tendo a defesa, a cargo do conhecido advogado Carlos Pinto de Abreu, conseguido que o enfermeiro fosse para casa, com uma pulseira electrónica. Já a Unidade Nacional de Contra--Terrorismo tinha todas as provas em mãos – fora inclusive o enfermeiro quem conduziu a PJ à ravina na praia da Adraga, em Sintra, para onde lançara o corpo da vítima dentro do próprio carro, depois de a ter morto na garagem de sua casa, em Telheiras.
Desde Março de 2008 que Jorge, de 45 anos, não volta à cadeia. E a mulher e os três filhos da vítima não conseguem justiça para o homicídio de Maurício Levy, que morreu aos 62 anos. Só em Fevereiro de 2009, mais de um ano após o crime, houve um primeiro julgamento – o enfermeiro foi condenado a 13 anos por homicídio simples. Já tinha largado a pulseira electrónica, esgotados os prazos das medidas de coacção privativas da liberdade, e o Ministério Público recorreu, inconformado com a sentença.
O Tribunal da Relação deu razão à Acusação, entendendo que o enfermeiro deve ser julgado por homicídio qualificado – pela premeditação do crime –, e mandou repetir o julgamento. Há dois meses recomeçou, na 3ª Vara Criminal de Lisboa – não deverá haver sentença até final do ano. E seguem-se novos recursos, com Jorge Enes à solta. Quatro anos depois.
"DIZIA-ME: 'VAIS MORRER, NÃO BRINCAS MAIS'"
"Dizia-me: ‘vais morrer, não brincas mais’. Cheguei a receber 160 chamadas num só dia." O enfermeiro Luís Vieira, de 43 anos, ouvido ontem em tribunal como testemunha, diz ter "vivido um ano de terror" em 2007. Foi ameaçado de morte e perseguido durante cerca de nove meses. "Consegui ver a cara dele duas vezes, quando era perseguido", disse em tribunal. Jorge Enes, o arguido, achava que a mulher tinha um caso com Luís – com quem trabalhava – e por isso ter-lhe-á feito a vida negra. "Uma das primeiras situações foi terem-me furado os pneus do carro, à porta de casa. Nesse dia a dra. Margarida telefonou a perguntar se eu estava bem. Confessou que o marido achava que tínhamos um caso", contou Luís aos juízes.
DIZ TER OUVIDO BEIJOS ENTRE MULHER E VÍTIMA
Maurício Levy almoçou com Margarida Botelho, em processo de divórcio de Jorge Enes, a 6 de Dezembro de 2007. Jorge ligou inúmeras vezes à mulher e, sem se aperceber, a psiquiatra atendeu. A ligação ficou activa 47 minutos e Jorge conseguiu ouvir o que achou ser uma conversa romântica, além de "beijos entre eles". Ao final da tarde, emboscou Maurício à chegada a casa, na garagem do seu prédio, e desferiu-lhe 21 facadas ainda dentro do carro. Conduziu até à praia da Adraga, Sintra, e lançou o automóvel com o cadáver no interior pela falésia. 


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