A
prisão preventiva só durou três meses, tendo a defesa, a cargo do
conhecido advogado Carlos Pinto de Abreu, conseguido que o enfermeiro
fosse para casa, com uma pulseira electrónica. Já a Unidade Nacional de
Contra--Terrorismo tinha todas as provas em mãos – fora inclusive o
enfermeiro quem conduziu a PJ à ravina na praia da Adraga, em Sintra,
para onde lançara o corpo da vítima dentro do próprio carro, depois de a
ter morto na garagem de sua casa, em Telheiras.
Desde
Março de 2008 que Jorge, de 45 anos, não volta à cadeia. E a mulher e
os três filhos da vítima não conseguem justiça para o homicídio de
Maurício Levy, que morreu aos 62 anos. Só em Fevereiro de 2009, mais de
um ano após o crime, houve um primeiro julgamento – o enfermeiro foi
condenado a 13 anos por homicídio simples. Já tinha largado a pulseira
electrónica, esgotados os prazos das medidas de coacção privativas da
liberdade, e o Ministério Público recorreu, inconformado com a sentença.
O Tribunal da Relação deu razão à Acusação,
entendendo que o enfermeiro deve ser julgado por homicídio qualificado –
pela premeditação do crime –, e mandou repetir o julgamento. Há dois
meses recomeçou, na 3ª Vara Criminal de Lisboa – não deverá haver
sentença até final do ano. E seguem-se novos recursos, com Jorge Enes à
solta. Quatro anos depois.
"DIZIA-ME: 'VAIS MORRER, NÃO BRINCAS MAIS'"
"Dizia-me:
‘vais morrer, não brincas mais’. Cheguei a receber 160 chamadas num só
dia." O enfermeiro Luís Vieira, de 43 anos, ouvido ontem em tribunal
como testemunha, diz ter "vivido um ano de terror" em 2007. Foi ameaçado
de morte e perseguido durante cerca de nove meses. "Consegui ver a cara
dele duas vezes, quando era perseguido", disse em tribunal. Jorge Enes,
o arguido, achava que a mulher tinha um caso com Luís – com quem
trabalhava – e por isso ter-lhe-á feito a vida negra. "Uma das primeiras
situações foi terem-me furado os pneus do carro, à porta de casa. Nesse
dia a dra. Margarida telefonou a perguntar se eu estava bem. Confessou
que o marido achava que tínhamos um caso", contou Luís aos juízes.
DIZ TER OUVIDO BEIJOS ENTRE MULHER E VÍTIMA
Maurício
Levy almoçou com Margarida Botelho, em processo de divórcio de Jorge
Enes, a 6 de Dezembro de 2007. Jorge ligou inúmeras vezes à mulher e,
sem se aperceber, a psiquiatra atendeu. A ligação ficou activa 47
minutos e Jorge conseguiu ouvir o que achou ser uma conversa romântica,
além de "beijos entre eles". Ao final da tarde, emboscou Maurício à
chegada a casa, na garagem do seu prédio, e desferiu-lhe 21 facadas
ainda dentro do carro. Conduziu até à praia da Adraga, Sintra, e lançou o
automóvel com o cadáver no interior pela falésia.
FONTE: Correio da Manhã
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