Fundação Paula Rego só não teve avaliação positiva porque os autores do relatório se enganaram nas contas. E a do Côa foi avaliada para o triénio 2008-2010, quando só foi criada em 2011.
No Relatório de Avaliação das Fundações coordenado pelo secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, do Ministério das Finanças, a Fundação Paula Rego, que gere a Casa das Histórias, em Cascais, recebeu uma pontuação total de 40,8 em 100 possíveis. Este resultado negativo terá mesmo levado o Governo a sugerir à Câmara de Cascais a extinção da fundação, criada em 2009 para promover a obra de Paula Rego e do seu falecido marido, o pintor Victor Willing. Acontece que houve um erro nas contas: a fundação deveria ter tido 55 pontos, um resultado não apenas positivo, mas que a colocaria num lugar confortável entre as fundações públicas e público-privadas.
Carolina Willing, filha de Paula Rego e membro do conselho de administração da fundação, não tardou a dar pelo erro: "Feitas as contas, a fundação atingiu 55 pontos, e não 40", garante, adiantando que a instituição irá "aguardar a conclusão do processo antes de decidir como prosseguir". O PÚBLICO foi confirmar os dados no portal do Governo e não parecem existir dúvidas de que a administradora tem razão.
Se se compararem os resultados da Fundação Paula Rego com os de outra fundação de fins culturais também sediada em Cascais, a D. Luís I - entre cujos fundadores se incluem a Sociedade Estoril Sol, o empresário Stanley Ho e a autarquia -, verifica-se que tiveram uma avaliação rigorosamente idêntica nos parâmetros "pertinência" e "sustentabilidade", diferindo apenas no parâmetro "eficácia", tendo a D. Luís I obtido 22,1 pontos, ao passo que a Fundação Paula Rego se ficou por uns embaraçosos 8 pontos. Dado que todos os outros números coincidem, só esta diferença pode justificar que, na avaliação final, a D. Luís I obtenha mais 14,2 pontos do que a sua vizinha.
O erro que Carolina Willington detectou está justamente nas contas que o Ministério das Finanças fez para chegar ao total de 8 pontos no critério de "eficácia". E, como se comprova pela infografia que ilustra este texto, o erro salta à vista. O relatório define três sub-parâmetros para avaliar a eficácia, e as duas fundações obtiveram os mesmos resultados no primeiro e no terceiro. Só no segundo, relativo aos "fundamentos para a manutenção dos apoios financeiros públicos concedidos", é que há, de facto, uma diferença, só que favorável à Fundação Paula Rego, com 81,3 pontos contra os 70 obtidos pela D. Luís I.
Este estranho erro fez com que a fundação que gere a Casa das Histórias - um museu de acesso livre que conta no seu espólio com centenas de obras cedidas gratuitamente por Paula Rego, e que está instalado num edifício projectado por um prémio Pritzker da arquitectura, Eduardo Souto de Moura - aparecesse nos meios de comunicação como uma instituição mal gerida, a ponto de ser recomendada a sua extinção.
"É um vexame", diz a directora do museu Casa das Histórias, Helena Freitas, lembrando que Paula Rego é a artista portuguesa com maior prestígio internacional e garantindo que o museu "tem um excelente desempenho e é já conhecido dentro e fora do país". A própria artista, adianta, terá "ficado incomodada" com a notícia.
Filha de Paula Rego acusa Ministério das Finanças de erro na avaliação da fundação da pintora - Cultura - PUBLICO.PT
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