O número de insolvências, que deverão aumentar 50%este ano, já ia em 4338 no final de Agosto.Advogados garantem que o pior ainda está para vir.
Os bancos não estão a cumprir os planos de recapitalização assinados com o governo há dois meses no que respeita ao financiamento da economia, uma situação que está a ter efeitos devastadores na vida das PME.
Quando recorreram à ajuda estatal, o BCP, o BPI e também a CGD, noutros moldes, ficaram obrigados a investir este ano 45 milhões de euros em pequenas e médias empresas e nas famílias, mas o mecanismo para concretizar esse financiamento ainda não está operacional.
A Glasslook, Lda. é o exemplo de como podem ser brutais as consequências da asfixia financeira. A empresa, que exporta quase tudo o que produz, acabou de decidir fechar, com uma carteira de encomendas superior a 300 mil euros. São 18 pessoas que vão para o desemprego devido a problemas de tesouraria, depois de governo e bancos terem anunciado medidas que parecem não ter efeitos práticos.
O BCP e o BPI têm de injectar anualmente 30 milhões de euros para capitalizar PME, montante que será aplicado através de um fundo que investirá em participações sociais, uma obrigação que foi estendida à CGD. No total são 90 milhões por ano, enquanto durar a intervenção pública nos bancos, que em Junho receberam 6,150 mil milhões de euros do Estado.
A sócia gerente da Glasslook não sabe onde pára esse dinheiro. “Há bancos a aplicar spreads de 10%... O ministro da Economia disse que existe um gabinete de apoio e protecção às PME, mas quem é que sabe onde ele está? As linhas de financiamento são para esquecer e o QREN deixa de fora as empresas de Lisboa”.
Isabel Moreira Rato fez há mais de três anos aquilo que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho aconselhou aos portugueses a fazer há uns meses: transformou o desemprego numa oportunidade quando a firma onde trabalhava, das mais antigas do país, fechou. Abriu o seu negócio e contratou todos os ex-colegas do seu departamento, mesmo depois de o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) se ter recusado a dar--lhe à cabeça o dinheiro a que tinha direito.
Depressa conseguiu contratos internacionais e agora o grupo Indetex propôs deslocalizar para a Glasslook a produção que tem na China, dando à empresa até 2013 para se preparar, o que lhe daria vendas de 2 milhões. “O problema é que temos de ter material para satisfazer as encomendas, que tem de ser pago a pronto, quando só recebemos a 90 dias. Por outro lado, quanto melhores são as encomendas, melhor tem de ser a maquinaria que utilizamos para satisfazer os prazos de entrega, o que implica investir em máquinas mais modernas”, explica.
Apesar de a não execução dos objectivos de financiamento ser motivo suficiente para o Ministério das Finanças determinar o incumprimento relevante dos bancos e aplicar sansões, as instituições não parecem preocupar-se.
A Glasslook trabalha com o banco público, a quem já pediu ajuda. “Mas só temos visto as condições a apertar: baixam-nos os plafonds de tudo, das livranças ao cartão de crédito, que usamos sobretudo para pagar a compra de matéria-prima. Fomos pedir ajuda para poder aceitar uma encomenda da Indetex, mas levantaram-nos imensos problemas e queriam até que pedíssemos à empresa para se comprometer. Tudo isto assusta os clientes, que preferem escolher outro fornecedor, mesmo que seja na Polónia, que até faz mais barato”, conta. “Eles vêem a qualidade do nosso trabalho e ficam fascinados, mas não querem, nem têm de querer saber dos problemas que existem por trás disso.”
A responsável da empresa estranha ainda que, para emprestar dinheiro, a CGD e outros bancos condicionem o cliente, obrigando-o a comprar produtos da instituição com parte desse dinheiro, que devia ser para aplicar no negócio”, diz.
O plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos ascendeu a 1,750 mil milhões de euros, dos quais 750 milhões foram injectados pelo Estado através da realização de um aumento de capital, enquanto os restantes 900 milhões de euros abrangeram a emissão de “CoCos”.
A história desta PME é o exemplo acabado e mais recente a que o i teve acesso. Mas diversos advogados contactados pelo jornal garantem que, a partir de Setembro, Portugal vai assistir a uma “razia completa” de PME e situações idênticas à que aqui descrevemos.
A responsável da Glasslook não quer baixar os braços, mas já não sabe o que fazer. “Neste país, tudo são dificuldades. Só para nos candidatarmos ao QREN tivemos de pagar 10 mil euros pelo projecto – pagámos apenas 5 mil, já que o restante só seria pago caso a candidatura fosse aceite. Acontece que depois disso ficámos a saber que não havia dinheiro para projectos em Lisboa. Isto faz sentido?”, pergunta.
O Ministério da Economia anunciou diversas medidas para ajudar as PME, sobretudo as exportadoras, “mas quando pensamos que finalmente podemos resolver o problema, falta sempre alguma coisa”. A Glasslook tentou candidatar-se ao PME Investe, mas não teve êxito. “Eram necessários documentos da Segurança Social e as coisas demoraram tanto tempo que, quando finalmente apareceram, já não serviram para nada”, conta Isabel Moreira Rato. “Claro que estou desiludida, sobretudo por fechar uma empresa que nunca teve prejuízos, todos os anos deu lucro. Ainda por cima, tínhamos investidores dispostos a entrar com 250 mil euros e resolver os problemas de tesouraria, desde que o QREN emprestasse dinheiro para máquinas novas”, que é o que precisamos.
As insolvências de empresas vão aumentar 50% em Portugal este ano, revela um estudo da Euler Hermes, especialista em seguros de crédito. No final de Agosto o número de insolvências estava já muito próximo do total registado em todo o ano passado, com a construção a liderar em termos de sector e o Porto à frente em termos de localização.
Entre 1 de Janeiro e 31 de Agosto de 2012 registaram-se 4338 insolvências, mais 47,95% do que em igual período de 2011. Os valores dos primeiros oito meses do ano já andam muito próximos dos atingidos em todo o 2011.
Bancos não cumprem financiamento a PME | iOnline
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