8 de setembro de 2012
GNR exonera comandante devido à participação de militares no "Funeral de Portugal"
O comandante da GNR de Braga, Mota Gonçalves, foi ontem afastado do cargo na sequência da participação de sete militares numa iniciativa da Capital Europeia da Cultura (CEC). O comando nacional não gostou de ter visto os homens fardados no “funeral de Portugal”, uma performance promovida pelo artista Miguel Januário, tendo decidido exonerar o responsável.
A decisão foi tomada na sequência de um processo de averiguações interno à participação dos guardas no cortejo realizado a 22 de Agosto. Fardados com traje de gala, sete militares escoltaram um caixão simbolizando Portugal pelas ruas da cidade. No final da performance, na praça do Toural, dispararam salvas de tiros de espingarda, enquanto carpideiras choravam a morte do país.
A intervenção artística caiu mal junto de alguns sectores da GNR. Há dois dias, a Associação Sócio-Profissional Independente da guarda tinha criticado a participação dos guardas na iniciativa cultural, considerando-a um “espectáculo degradante da instituição”. “Os militares da GNR juraram, com a própria vida, defender a pátria, e apesar de estarmos perante uma peça de teatro, estão em causa valores intocáveis como a defesa da pátria”, sublinhava a direcção da associação.
Ontem, foi o comando nacional da força policial que, num comunicado enviado à agência Lusa, confirma que Mota Gonçalves, “após averiguações, foi exonerado de funções o comandante do Comando Territorial de Braga". O coronel será substituído pelo actual número dois da guarda no distrito.
A presença dos seis guardas no funeral foi paga pela produção dessa iniciativa da Guimarães 2012. O “funeral de Portugal” continental é um de seis intervenções que Miguel Januário está a fazer na CEC, no âmbito do projecto “mais-menos”, que já o levou também a grafitar paredes noutras dias do país, como a de um prédio devoluto na rua do Alecrim, em Lisboa.
O artista diz-se “surpreendido” e “chocado” com a exoneração do comandante distrital da GNR. Ainda mais quando a guarda foi contratada para o efeito. “Fizemos o mesmo que outras manifestações artísticas ou os organizadores de jogos de futebol”, explica o artista ao PÚBLICO.
O funeral tinha por objectivo chamar a atenção para a diminuição da soberania do país e a perda de valores da democracia. Miguel Jerónimo considera, por isso, que a polémica em torno da performance mostra “o estado em que o país se encontra”. Esta não é a primeira polémica envolvendo este artista e a Guimarães 2012. A primeira intervenção na cidade foi a pintura de uma versão revista do hino nacional em várias paredes. A primeira estrofe, “Ireis pagar/pobre povo”, foi gratifada na parede de uma fábrica abandonada junto ao Centro Cultural Vila Flor, mas, apesar da autorização do proprietário, foi apagada dias depois pelos serviços municipais.
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