16 de abril de 2011
Henrique Sotero obriga vítimas a ir a tribunal
Antes de violar, Henrique Sotero queria saber tudo: o nome das vítimas, quem eram os pais, o que estudavam, se tinham namorados, se eram virgens, que tipo de relações sexuais haviam tido. O violador de Telheiras ouviu tudo com atenção e decorou até a maneira como forçou catorze raparigas a fazer sexo oral. Ontem, em tribunal, fez questão de desmentir algumas vítimas. Por isso, quatro raparigas estão agora obrigados a ir a tribunal – a 12 de Maio – recordar os crimes e esclarecer a juíza.
A data para as vítimas serem ouvidas pelo colectivo de juízes da 8ª Vara Criminal do Campus de Justiça, em Lisboa, foi decidida ontem à tarde, na segunda sessão do julgamento em que Henrique Sotero responde por 74 crimes, entre os quais catorze violações, ao longo de dois anos. Recorde-se que Sotero corrigiu vários dados da acusação, baseada no testemunho das raparigas atacadas. Logo na primeira sessão, Sotero disse à juíza Flávia Macedo que ao contrário do que tinham dito, "algumas vítimas não choraram", senão, garante, "teria parado". Mais: o violador desmente outra vítima que, quando interrogada pela Polícia Judiciária (PJ), disse que ele apertou a braguilha das calças. O violador diz que é mentira, porque no dia do crime estava de fato de treino. E são estes os pormenores que agora obrigam as quatro raparigas violadas a voltar a vê-lo. Ontem foram ouvidos António José Albuquerque, psiquiatra que tem seguido Sotero desde 2009, e Fernando Vieira, perito do Instituto de Medicina Legal, que elaborou o relatório pericial. Fernando Vieira contrariou "com base científica" a patologia compulsiva de Henrique Sotero, defendida pelo psiquiatra, e corroborou a conclusão da perícia: o violador de Telheiras é imputável. "Doenças todos nós temos, mas não justificam os actos", disse à juíza.
Por seu lado, António José Albuquerque afirmou que desde que Henrique Sotero, acompanhado da namorada, o procurou, em Novembro de 2009, não tornou a cometer crimes. Acrescentou que Sotero cumpre a medicação, levada à cadeia de Lisboa onde se encontra preso preventivamente.
Ontem os advogados das vítimas requereram "especial complexidade ao processo", para alargar os prazos da prisão preventiva de Sotero e evitar a sua liberdade antes do acórdão.
"O HENRIQUE ESTÁ MUITO BEM DE SAÚDE"
José Pereira da Silva, advogado que defende o violador de Telheiras, foi o último a chegar à audiência, ontem à tarde, no Campus de Justiça, em Lisboa. À saída escusou-se a tecer quaisquer comentários sobre a audiência onde foram ouvidos o perito do IML e o psiquiatra que acompanha o violador de Telheiras desde Novembro de 2009. "Hoje foram ouvidos especialistas que analisaram o Henrique, mas ele está bem de saúde", limitou-se a dizer. Recorde-se que Sotero pediu ajuda médica aconselhado pela namorada, que lhe continua fiel. O pedido de ajuda surgiu três meses depois de Sotero ser abordado por investigadores da PJ.
PERÍCIA DIZ QUE SOTERO PODE VOLTAR A VIOLAR JOVENS
O relatório médico pericial elaborado pelo Instituto de Medicina Legal (IML) não só confere a imputabilidade de Henrique Sotero, como salienta a possibilidade de voltar a violar. "Não pode ser excluída a possibilidade de vir a ocorrer uma repetição de comportamentos semelhantes aos de que está acusado nos autos (...). Os instrumentos de risco de violência aplicados apontam para um risco moderado, particularmente para os actos de natureza sexual, cujo nível será de moderado a alto", concluiu a psicóloga clínica. Sotero foi submetido a quatro entrevistas.
RECUSA-SE A TOMAR XANAX NA CADEIA
Henrique Sotero é extremamente cuidadoso com a medicação passada pelo psiquiatra e nunca se esquece de tomar os comprimidos diários, que servem para controlar os impulsos sexuais, segundo António José Albuquerque, que o está a acompanhar. Mas o violador recusa-se a tomar o Xanax dado aos reclusos no Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL), onde se encontra preso preventivamente desde 5 de Março do ano passado. E tem justificação para isso: está a escrever um livro para participar num concurso literário e se tomar aquele medicamento adormece rapidamente e fica sem tempo para continuar a obra.
Henrique Sotero escreve todos os textos à mão e durante as visitas da namorada à prisão dá-lhe os apontamentos para ela passar a computador. O livro conta neste momento já com mais de sessenta páginas. "Não é autobiográfico mas espelha várias opiniões sociais que tenho", adianta Henrique Sotero.
FONTE: Correio da Manhã
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