12 de abril de 2011

Jovem médica baleada pelo pai está tetraplégica

Diana, jovem médica baleada pelo pai, que não aceitava o seu namoro, soube ontem que está tetraplégica.

Estendida sobre uma poça de sangue, depois de atingida pelo próprio pai com três tiros à queima-roupa, sábado à tarde, em Almada, Diana Sofia dos Santos disse apavorada aos vizinhos: "Não consigo sentir o meu corpo." Ontem, a jovem médica, de 26 anos, recebeu a pior das notícias: está tetraplégica depois de uma das balas ter ficado alojada na zona da coluna.

Fonte do Hospital Garcia de Orta, onde a vítima permanece internada na Unidade de Cuidados Intensivos, confirmou ao CM o diagnóstico, ressalvando "que estão a ser feitos mais exames para ver se a situação é mesmo irreversível". Paula dos Santos, irmã de Diana, estava ontem destroçada com a tragédia e limitou-se a confirmar ao CM o estado de saúde da irmã. Paula esteve à porta do Tribunal de Almada enquanto o pai era interrogado - e não conteve as lágrimas quando viu António Marques sair no carro da Judiciária em prisão preventiva.

Ex-fuzileiro e antigo motorista de oficiais na Base Naval do Alfeite, o atirador, com cerca de 60 anos, é conhecido pelos vizinhos por ofender e humilhar a filha mais nova, médica no Hospital do Patrocínio, em Évora, entregue aos seus cuidados desde os 13 anos. Agora, o ex-militar não aceitava que a filha namorasse com um empregado de uma empresa de automóveis.

António Marques já teve duas mulheres, mas, segundo os vizinhos, ambas abandonaram o lar devido à violência de que eram alvo. No sábado à tarde, mal a jovem médica entrou em casa, depois da viagem de Évora até Almada para passar o fim-de-semana, foi novamente humilhada pelo pai. Nem teve tempo de desfazer a mala. Depois de tentar matar a filha com os três tiros, pousou a arma no hall da casa e saiu. Ao cruzar-se com um vizinho, ainda no prédio, empurrou-o e disse-lhe: "Já me chateei outra vez com ela."

"QUERIA TER AQUI O MEU MIGUEL"


Todos os vizinhos ficaram abalados com a violência exercida sobre Diana dos Santos. "Tenho mesmo pena que isto lhe tenha acontecido. É uma rapariga muito educada e calma", disseram alguns vizinhos. Tida como uma "menina educada e calma", Diana era humilhada e alvo da fúria constante do pai. Antes mesmo da chegada do INEM, e a esvair-se em sangue, Diana disse aos dois vizinhos que lhe prestaram os primeiros socorros: "Queria ter aqui o meu Miguel."

PEDIA PERMISSÃO AO PAI PARA SAIR E TER AMIGAS

Extremamente nervoso, controlador, possessivo e desconfiado, António Marques não admitia à filha ter amigos e muito menos namorados. Em pequena, Diana recebeu a missão de ser médica e até se formar o pai não a deixou sair à noite e ter amigas "para não se distrair". Aos vizinhos, o ex-fuzileiro dizia que a filha havia ainda de casar com um médico. E foi isso que ele não admitiu - a filha namorar há cerca de dois meses com um mero empregado de uma empresa de automóveis. "Aos 26 anos pedia permissão para sair à noite e ter amigas. Estão no prédio há cinco anos e nunca vi a rapariga com nenhuma amiga. Quando ela foi trabalhar para Évora ele ficou ainda mais violento", disse ao CM uma vizinha.

"NÃO QUERIA QUE A DIANA NAMORASSE COMIGO"


"As informações têm sido prestadas à família. A mim ainda ninguém me confirmou se teve ou não lesões graves", disse ontem ao CM o namorado de Diana. Miguel Barreto, residente em Évora, iniciou a relação com Diana Santos há pouco mais de dois meses e meio. O namoro teve início depois de a médica ter ido tirar uma especialidade no hospital da cidade alentejana.

"É um relacionamento normal e feliz", disse ontem o jovem, 33 anos, que preferiu não ser fotografado. Miguel confirma que o pai de Diana "controlava demasiado" a sua namorada e não queria que ela tivesse qualquer relacionamento. No entanto, nunca se sentiu ameaçado pelo agressor. "Não queria que namorasse comigo nem com outro rapaz qualquer, fosse qual fosse o seu estatuto social. Mas, desde o início do namoro, nunca fui ameaçado pelo pai da Diana", referiu o jovem, funcionário numa empresa de materiais para automóveis e filho dos senhorios da casa arrendada pela médica.

Sobre o facto de o pai de Diana ter viajado para Évora com o intuito de o matar, bem como a filha, Miguel nada soube sobre essa intenção. "Se ele esteve em Évora com balas com o ‘meu nome' e da Diana não o vi. Não posso dizer se é ou não verdade", disse.

Miguel Barreto visitou Diana no domingo, horas depois de esta ter sido barbaramente baleada pelo pai à queima-roupa. Falou com a namorada, mas o que lhe disse no Hospital Garcia de Orta, em Almada, ficou entre o casal. Por se encontrar a trabalhar, Miguel irá visitar a namorada no próximo fim--de-semana. Até lá prefere não prestar mais declarações.

MÉDICA "DISCRETA E EDUCADA"

Pela primeira vez, Diana deixou a casa do pai para começar em Évora um curso de especialidade no Hospital do Espírito Santo. Esta nova etapa na vida da médica iniciou-se em Janeiro. Com pouco mais de três meses de actividade nesta unidade, Diana passava ainda despercebida pelos corredores do hospital. "É uma menina trabalhadora, discreta e educada", referiu uma colega de trabalho que preferiu o anonimato.

FONTE: Correio da Manhã

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