O protesto dos estudantes de Coimbra contra as pinturas nas escadarias obrigou Jerónimo de Sousa a mudar o guião do discurso e a assegurar que ninguém "cala" o PCP
Duas barricadas improvisadas nas escadarias monumentais da Universidade de Coimbra transformaram o comício da CDU num braço-de-ferro entre comunistas e universitários. De um lado, os estudantes, trajados de capas negras, protestando contra os slogans de campanha pintados de alto a baixo nas escadas pela JCP; do outro, apoiantes de Jerónimo de Sousa gritando e agitando bandeiras sem conseguir desmobilizar uma rebelião juvenil que os perseguiu até ao fim.
Esta noite, durante o comício de campanha, as frases de ordem foram confusas e sobrepuseram-se. A CDU que “avança com toda a confiança” nem sempre teve força suficiente para abafar os cânticos “Limpa, limpa, camarada limpa” ou “Jerónimo, amigo, a esfregona está contigo”. Tanto barulho fizeram os alunos que obrigaram os dirigentes comunistas a mudar o guião dos discursos.
Entre as críticas às parceiras público-privadas e elogios ao regresso dos caminhos-de-ferro, houve recados aos universitários para lhes recordar que as “pedras são públicas” e que, “se umas pinturas incomodam muita gente, a voz da CDU incomodará muito mais”, avisou o cabeça-de-lista da CDU por Coimbra. De nada adiantou a advertência de Manuel Rocha pois os protestos dos alunos convocados por Facebook começaram ao primeiro minuto do comício e não tiveram retrocesso.
Mesmo assim, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, fez mais uma tentativa. Recorreu ao passado para relembrar que os comunistas sabem bem o que é o “silenciamento, a provocação e a proibição”. Nada disso foi alguma vez suficiente para “calar” um partido que continuará a “lutar por um Portugal mais justo”.
Poucos metros separavam os apoiantes da CDU - concentrados no início da escadaria -, e os estudantes alinhados no topo das escadas. A distância era demasiado curta, mas ninguém invadiu o espaço de cada um. Vontade não terá faltado, mas em noite de comício, houve também esforços colectivos para não converter a escadaria num campo de batalha. “Só mesmo um partido como este tolera uma provocação como esta”, ouviu-se por entre a multidão.
Embora a muito custo os exercícios de autocontrole tivessem funcionado, desejos mais íntimos de acabar com a festa estudantil foram igualmente difíceis de reprimir. “Isto era pô-los todos a rebolar pelas escadas abaixo” resmunga um camarada para o seu grupo. O certo é que, mesmo com apupos e assobiadelas, o discurso de Jerónimo “por novo rumo” foi até ao fim e o programa do terceiro dia de campanha ficou completo. Ao cair do pano, os dois lados da barricada até se juntaram para cantar o hino português.
FONTE: Jornal i
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