16 de outubro de 2011

Cova da Beira: “Foi uma obra desastrosa”

"Foi uma obra desastrosa porque foi muito cara e não conseguiu resolver o objectivo ambiental a que se propunha. Foi mais um péssimo investimento público." As palavras são de Carlos Pinto (PSD), presidente da Câmara Municipal da Covilhã, que desde "o primeiro momento" foi contra a construção, naqueles moldes, do aterro sanitário e da Central de Compostagem da Cova da Beira.

"Infelizmente, o tempo veio dar-me razão e hoje estamos perante mais um investimento público muito oneroso e que não serve os interesses do municípios e das pessoas que pagam uma taxa de lixo superior à média nacional", continua o autarca que, na altura do processo, não era presidente da autarquia – perdeu as eleições em 1993 para Jorge Pombo (PS) e voltou em 1997.
A Câmara da Covilhã é hoje "apenas" um "mero cliente" da Resistrela, empresa de capitais públicos que gere a Central de Compostagem da Cova da Beira. Carlos Pinto sempre se negou a ocupar "qualquer lugar" nos órgãos sociais, por entender que a empresa não "serve os interesses das populações". O autarca suspeita tratar-se de mais uma empresa pública "falida" que ainda se mantém a laborar "por um qualquer milagre ou favor político". "É uma empresa de capitais públicos hiperfalida", reforça.
Carlos Pinto diz ao CM que a Comurbeiras – Comunidade Intermunicipal, associação de municípios a que preside, já apresentou uma proposta ao actual Governo para ser ela a gerir a Resistrela, apenas com uma imposição: o passivo ficar na responsabilidade do Estado. "Nós aceitamos passar a gerir a empresa mas o conta quilómetros da contabilidade tem de começar do zero. Tenho a certeza de que ficaria melhor entregue e os encargos públicos, nomeadamente com altos salários dos administradores, seriam bem menores", refere o autarca, frisando que as populações são as "principais lesadas" da má gestão da Resistrela. 

APONTADAS DEFICIÊNCIAS
José Melchior, de 42 anos, presidente da Junta de Freguesia de Peroviseu, concelho de Fundão, localidade mais próxima do local onde foi construído o aterro, reconhece que a obra serviu sobretudo para acabar com as lixeiras a céu aberto, principalmente a do Souto Alto que era um "verdadeiro atentado ambiental".
O autarca lembra-se de que, na altura, algumas pessoas da freguesia manifestaram-se contra a construção do aterro e da central de compostagem da Cova da Beira, porque ficava perto das casas. "Depois tudo se ultrapassou e as pessoas habituaram-se", refere José Melchior, adiantando que depois da sua construção, o aterro provocou alguns problemas ambientais, porque "afectou lençóis freáticos e matou muita flora". "Agora já parece estar tudo resolvido", garante.
Porém, o autarca queixa-se de que, por vezes, os camiões que transportam os resíduos "derramam para as estradas lixiviados e lixo", situação que pode "pôr em causa a segurança rodoviária".
Recorde-se que o concurso para a construção do aterro foi lançado em Março de 1996 e a inauguração, presidida por António Guterres e José Sócrates, aconteceu em 2001. 

DENÚNCIA VISAVA JOSÉ SÓCRATES
A investigação do chamado caso Cova da Beira foi desencadeada na sequência de uma denúncia anónima que dava conta de ilícitos no concurso de construção da estação de tratamento de lixos. "A HLC disponibilizou 300 mil contos, sendo 150 mil para o secretário de Estado do Ambiente, José Sócrates", lia-se na denúncia. Entre oito concorrentes, a HLC venceu o concurso, embora tivesse sido excluída na fase de abertura de propostas.


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