"Infelizmente,
o tempo veio dar-me razão e hoje estamos perante mais um investimento
público muito oneroso e que não serve os interesses do municípios e das
pessoas que pagam uma taxa de lixo superior à média nacional", continua o
autarca que, na altura do processo, não era presidente da autarquia –
perdeu as eleições em 1993 para Jorge Pombo (PS) e voltou em 1997.
A
Câmara da Covilhã é hoje "apenas" um "mero cliente" da Resistrela,
empresa de capitais públicos que gere a Central de Compostagem da Cova
da Beira. Carlos Pinto sempre se negou a ocupar "qualquer lugar" nos
órgãos sociais, por entender que a empresa não "serve os interesses das
populações". O autarca suspeita tratar-se de mais uma empresa pública
"falida" que ainda se mantém a laborar "por um qualquer milagre ou favor
político". "É uma empresa de capitais públicos hiperfalida", reforça.
Carlos
Pinto diz ao CM que a Comurbeiras – Comunidade Intermunicipal,
associação de municípios a que preside, já apresentou uma proposta ao
actual Governo para ser ela a gerir a Resistrela, apenas com uma
imposição: o passivo ficar na responsabilidade do Estado. "Nós aceitamos
passar a gerir a empresa mas o conta quilómetros da contabilidade tem
de começar do zero. Tenho a certeza de que ficaria melhor entregue e os
encargos públicos, nomeadamente com altos salários dos administradores,
seriam bem menores", refere o autarca, frisando que as populações são as
"principais lesadas" da má gestão da Resistrela.
APONTADAS DEFICIÊNCIAS
José
Melchior, de 42 anos, presidente da Junta de Freguesia de Peroviseu,
concelho de Fundão, localidade mais próxima do local onde foi construído
o aterro, reconhece que a obra serviu sobretudo para acabar com as
lixeiras a céu aberto, principalmente a do Souto Alto que era um
"verdadeiro atentado ambiental".
O autarca
lembra-se de que, na altura, algumas pessoas da freguesia
manifestaram-se contra a construção do aterro e da central de
compostagem da Cova da Beira, porque ficava perto das casas. "Depois
tudo se ultrapassou e as pessoas habituaram-se", refere José Melchior,
adiantando que depois da sua construção, o aterro provocou alguns
problemas ambientais, porque "afectou lençóis freáticos e matou muita
flora". "Agora já parece estar tudo resolvido", garante.
Porém,
o autarca queixa-se de que, por vezes, os camiões que transportam os
resíduos "derramam para as estradas lixiviados e lixo", situação que
pode "pôr em causa a segurança rodoviária".
Recorde-se
que o concurso para a construção do aterro foi lançado em Março de 1996
e a inauguração, presidida por António Guterres e José Sócrates,
aconteceu em 2001.
DENÚNCIA VISAVA JOSÉ SÓCRATES
A
investigação do chamado caso Cova da Beira foi desencadeada na
sequência de uma denúncia anónima que dava conta de ilícitos no concurso
de construção da estação de tratamento de lixos. "A HLC disponibilizou
300 mil contos, sendo 150 mil para o secretário de Estado do Ambiente,
José Sócrates", lia-se na denúncia. Entre oito concorrentes, a HLC
venceu o concurso, embora tivesse sido excluída na fase de abertura de
propostas.
FONTE: Correio da Manhã
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