A
Polícia Judiciária (PJ) propôs em 2003 a realização de buscas a José
Sócrates, no âmbito da investigação ao ‘processo Cova da Beira’ – em que
são arguidos o empresário Horácio Carvalho, António Morais e a sua
ex-mulher, Ana Simões –, mas um procurador do DIAP de Lisboa opôs-se.
Em
causa estão suspeitas de alegados pagamentos para adjudicação da
construção da central de compostagem de lixo da Cova da Beira à empresa
HLC, de Horácio Carvalho, e o facto de uma carta anónima, de 1997,
denunciar o envolvimento de José Sócrates.
O
inspector que tinha o inquérito considerou que as buscas seriam de
"grande utilidade" para a obtenção de documentação bancária.
No
entanto, o magistrado Hélder Cordeiro apenas acompanhou o pedido de
buscas ao ex--presidente da Câmara da Covilhã Jorge Pombo, e ao seu
assessor João Cristóvão. "Pese embora as denúncias sugerirem que o então
secretário de Estado do Ambiente [Sócrates] esteve envolvido no
cometimento de actos ilícitos, a verdade é que processualmente não
existem indícios fortes dessa sua participação (...) e deverá
aguardar-se o resultado de outras diligências", lê-se no documento.
Já
a PJ tinha outra posição. "Entendemos que os textos anónimos que
estiveram na origem da instauração do presente inquérito-crime adquirem
grande verosimilhança quanto aos factos que possam ter ocorrido em torno
dos processos de adjudicação". Os inspectores tinham também concluído
que todo o processo de candidaturas para a construção da central de
compostagem da Cova da Beira tinha sido "controlado" pelo PS da Covilhã,
designadamente pelo autarca Jorge Pombo, o seu assessor João Cristóvão e
pelo então secretário de Estado do Ambiente, José Sócrates.
INAUGURAÇÃO COM FESTA
A
central de compostagem de lixo da Cova da Beira foi inaugurada a 6 de
Julho de 2001, quatro anos depois da data prevista. Mas, mesmo assim, a
inauguração foi feita com grande festa. Assistiram António Guterres, que
era primeiro-ministro na altura, Horácio Carvalho, o dono da HLC,
empresa construtora da central, e José Sócrates.
DENÚNCIA POR CARTA ANÓNIMA VISAVA EX-PRIMEIRO-MINISTRO
A
investigação ao ‘caso Cova da Beira’ foi desencadeada na sequência de
uma denúncia anónima que dava conta de ilícitos no concurso de
construção da central de compostagem de lixo da Associação de Municípios
da Cova da Beira, em 1997, à data presidida pelo autarca da Covilhã
Jorge Pombo. "A HLC disponibilizou 300 mil contos (1,5 milhões de
euros), sendo 150 mil (750 mil euros) para o secretário de Estado do
Ambiente, José Sócrates", lia-se na denúncia que deu origem a uma
averiguação preventiva, em 1998, e posteriormente, em 1999, à abertura
de um inquérito por suspeitas de corrupção. A PJ concluiu que
"efectivamente" o processo de concurso da central da Cova da Beira não
tinha sido pacífico, estranhando que, entre oito concorrentes, a empresa
que acabou por ganhar, a HLC, tivesse sido excluída antes, na fase de
abertura de propostas.
OS AMIGOS EMPRESÁRIOS
José
Sócrates tinha boas relações com os empresários Horácio Carvalho, da
HLC, e Carlos Santos Silva (na foto), da Conegil, as duas empresas que
em consórcio se candidataram no concurso público para a construção da
central de compostagem de lixo da Cova da Beira e ganharam. Os dois
empresários eram muito conhecidos na Covilhã.
PARTIDO DOMINA OBRA DA CENTRAL
O
ex-presidente da Câmara da Covilhã Jorge Pombo e o seu assessor João
Cristóvão controlaram todo o processo de adjudicação do concurso para a
construção da estação de tratamento de lixo da Cova da Beira, concluíram
os inspectores da Polícia Judiciária na investigação ao ‘caso Cova da
Beira’, após a audição de várias testemunhas.
As
autoridades deram, assim, como assente que todo o processo foi
controlado por elementos do PS/Covilhã, designadamente Cristóvão, que já
tinha trabalhado para a empresa que ganhou o concurso, tendo visitado a
sua sede várias vezes.
Pombo e Cristóvão foram
alvo de buscas domiciliárias e chegaram a ser arguidos, mas no fim do
processo passaram apenas a testemunhas.
Segundo
documentos no processo, Jorge Pombo, que estava também na Associação de
Municípios da Cova da Beira (AMCB), entregou à empresa Ana Simões &
Morais, a matriz de critérios, já feita e com a respectiva pontuação,
segundo os quais as empresas candidatas à construção da central de
compostagem de lixo deviam ser escolhidas.
FONTE: Correio da Manhã
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