Ouvidas
testemunhas, já feitas perícias no local, a Judiciária rapidamente
percebeu que Mário Brites não disparou um só tiro à porta do prédio de
Luís Maria, no Cacém. É mentira que tenha tentado assassinar o polícia.
Os investigadores concluíram ter-se tratado de uma armadilha da falsa
vítima, em conluio com um colega da PSP, para incriminar o vizinho. Em
Agosto, com o inocente há três meses na cadeia, o Ministério Público foi
informado pela PJ dos fortes indícios apurados – mas tudo ficou na
mesma, até à libertação da vítima na última semana.
Uma
procuradora de turno, no Tribunal de Sintra, recebeu a informação no
processo de que, em causa, a 30 de Abril, teria estado uma simulação de
crime da parte dos polícias. Mas o relatório intercalar da PJ, na altura
da revisão das medidas de coacção, não surtiu efeito na magistrada –
que assinou um despacho a dizer que não se justificava tirar o suspeito
da prisão preventiva. Mais dois meses se passaram, com um inocente a
partilhar a cela 135 do Estabelecimento Prisional de Lisboa – e a Secção
de Homicídios da PJ continuou a fazer o seu trabalho. Só agora,
conforme o CM avançou na última semana, foi reposta alguma justiça para
Mário Brites, libertado por ordem de um juiz ao fim de cinco longos
meses na cadeia.
Os indícios, desde que a PJ
tomou conta da investigação – só um mês depois, uma vez que na noite da
falsa tentativa de homicídio os investigadores de prevenção não foram
chamados pela PSP –, são evidentes e apontam para vários crimes, mas
quase todos cometidos pelos agentes Luís Maria e António Nereu.
Simulação
de crime, falsificação do auto de notícia, abuso de poder, são apenas
alguns exemplos, depois de terem montado uma armadilha a Mário Brites,
por vingança, uma vez que este tem uma desavença antiga com Luís Maria
por causa do condomínio do prédio – mas os polícias continuam ao
serviço. O Ministério Público ainda nem os constituiu arguidos.
"VIVI DIAS DE AUTÊNTICO INFERNO"
No
dia 2 de Maio, Mário Brites entrava no Estabelecimento Prisional de
Lisboa. "Estive no meio de bandidos. Andei a roubar pão no refeitório
para não passar fome e sabia que era inocente. Pouca gente acreditava em
mim", disse ao CM, em lágrimas, o homem de 41 anos, inocente colocado
atrás das grades durante cinco meses. Pai de quatro meninas, todas
menores, nunca deixou que a ex--companheira levasse as filhas para o
visitar. "Tinha vergonha delas e de mim. Vivi dias de autêntico
inferno", lamentou.
INVESTIGAÇÃO A POLÍCIAS AINDA ESTÁ POR FAZER
A
partir de agora é expectável que o Ministério Público extraia uma
certidão do processo principal – em que deverá cair a acusação de
homicídio tentado a Mário Brites – para que os polícias sejam
investigados: incorrem em crimes como simulação de crime, abuso de poder
e falsificação de documento.
POLÍCIAS CONTINUAM AO SERVIÇO
Os
dois agentes da PSP sob suspeita, Luís Maria (na foto) e António Nereu,
continuam ao serviço nas esquadras do Cacém e de Trajouce,
respectivamente.
Os processos disciplinares estão
directamente dependentes do processo-crime contra os dois, que ainda não
avançou. O agente Luís Maria vivia em guerra com o vizinho Mário
Brites, por isso terá inventado uma tentativa de homicídio. Contou com a
ajuda do colega Nereu.
FONTE: Correio da Manhã
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