"Este
é um caso único em Portugal. Está tudo dentro da lei e ficou comprovado
que o senhor morreu de causas naturais. Tendo a certidão de óbito seria
normal passarem a guia de enterro", disse à agência Lusa o presidente
da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), Nuno Monteiro.
A
carrinha funerária com o corpo de Manuel Pereira, falecido na
sexta-feira num lar em São João da Talha, Loures, esteve até meio da
tarde de hoje parada junto à esquadra da PSP local que se recusou passar
uma autorização para a realização do funeral.
Nuno
Monteiro explicou que aos dias de semana a guia de enterro é passada
pelas conservatórias, mas ao fim-de-semana, como estão fechadas, essa
responsabilidade é das autoridades policiais da zona onde ocorre o
óbito.
Em vez de passar a guia de
enterro, a PSP de São João da Talha decidiu comunicar o caso ao
Ministério Público de Loures que ordenou que o corpo teria de ser
transportado para o Instituto de Medicina Legal de Lisboa para ser
autopsiado.
A decisão causou
estupefacção aos familiares do morto e ao médico que passou a certidão
de óbito, que criticou a atitude da PSP. "Tenho muitos anos disto e
nunca vi uma coisa parecida. Eu fiz o acompanhamento do senhor Manuel e
pude atestar que morreu de uma pancreatite. Não havia necessidade de
estarem a pôr isso em causa e a causar mais dor à família", afirmou o
médico Martins Carvalho.
Já
Alexandra Leiria, neta de Manuel Pereira, disse à Lusa que o seu avô
teve neste último ano vários problemas de saúde, nomeadamente três AVC
(Acidente vascular cerebral) e que a morte foi "absolutamente" normal.
"O meu avô chegou a estar internado
um mês no hospital Curry Cabral. Na altura os médicos deram poucas
esperanças uma vez que tinha um prognóstico muito reservado. Apesar
disso ainda viveu durante mais três meses do que o previsto", contou.
Por
seu turno, o subcomissário Morgado da PSP de Loures, assegurou à Lusa
que o procedimento que as autoridades adoptaram para este caso é
absolutamente normal e que não consegue perceber a revolta da família.
"Isto é um processo que é sempre
decidido por várias autoridades. Nós limitamo-nos a seguir os
procedimentos naturais", justificou. No entanto, esse não é o
entendimento do presidente da ANEL que explicou que a polícia só se pode
recusar a passar a guia de enterro se houver suspeita de crime ou se na
certidão de óbito constar morte desconhecida.
"Morte
desconhecida não foi e suspeita de crime também não nos parece porque
senão não nos diziam que era um procedimento normal. Só podemos concluir
que houve um erro da polícia e agora não querem assumir", considerou
Nuno Monteiro.
Entretanto, a família decidiu que vai interpor uma queixa contra dois agentes da PSP da esquadra de São João da Talha.
FONTE: Correio da Manhã
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